ISSN 2359-5191

17/08/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 35 - Educação - Faculdade de Educação
Estrutura do curso é apresentada na última mesa do evento

São Paulo (AUN - USP) - A última mesa do evento “Formação Intercultural Superior de Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fispi): a formação em si”, apresentou as estratégias e resultados da formação, que se iniciou em 2005 e termina em abril de 2008.

O núcleo inicial de implantação do projeto dentro da Faculdade de Educação da USP foi o Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática, ciência que estuda as raízes culturais do conhecimento matemático e que procura entender o “outro”, o culturalmente diferenciado. O grupo foi procurado pela Secretaria de Educação e, para ser contratado, concorreu com duas outras universidades. A execução do projeto fez com que, além das pesquisas, o grupo passasse à atuação, e ampliasse os seus recursos humanos. Hoje a equipe conta com linguistas, antropólogos, pedagogos e educadores.

O objetivo da formação é fortalecer a escola e o professor indígenas e o espaço cultural em que ela se situa: a aldeia. Para isso, o desafio é promover a transposição dos saberes e realizar um trabalho intercultural e bilíngue.

O curso atende a 82 professores. A maior parte deles, 42, são de 15 aldeias da etnia Guarani. 15 provém de sete aldeias tupi-guarani, oito são de duas aldeias kaingang, 14 professores da etnia Terena vivem em quatro diferentes aldeias e há ainda mais 3 professores krenak da mesma aldeia. A maioria das etnias vive próxima ao litoral do Estado de São Paulo.

De acordo com Maria do Carmo Domite, coordenadora do Fispi, trabalha-se com o conceito de escola diferenciada, construída a partir das necessidades e tradições de cada grupo indígena. Para ela, “Privilegia-se o caminho do meio”, ou seja, casar as idéias próprias do sistema escolar com as tradições étnicas. Domite afirma que “não são questões antagônicas”, e isso é comparável à proposta já disseminada de trabalhar a educação a partir das necessidades da criança.

Atualmente, os professores estão realizando seus trabalhos de conclusão. Durante o curso as atividades dividiram-se em: aulas, palestras, visitas a museus e centros culturais, estágio supervisionado, elaboração de material didático, e avaliação das necessidades e problemas das comunidades.

Além de uma semana de aulas por mês na Faculdade de Educação, os professores receberam visitas dos educadores em seus locais de trabalho. Os encontros proporcionaram trocas de experiências entre as etnias e as realidades das escolas, além da interligação entre os conhecimentos da aldeia e da academia.

No Colóquio, Sandra Lacerda Campos, assessora do projeto e antropóloga do Museu de Etnologia e Antropologia (MAE) afirmou está se estabelecendo uma conexão de saberes, com ganhos recíprocos para o MAE e para os professores. Recentemente, com o auxílio deles, foi descoberta a utilidade de um cesto revestido com cera de abelha, que os estudiosos não conseguiam decifrar. O cesto serve para reservar mel. A proposta é que esses representantes participem cada vez mais da construção das exposições sobre seus povos, e da resolução de equívocos, além de fazer com que descobertas da academia retornem às aldeias.

Idméia Semeghini-Siqueira, coordenadora da área de linguagem, apresentou três desafios do curso: encaminhar a formação desses professores no contexto bilíngue, tratar a temática de modo a representar a cultura das cinco etnias, e a normatização da língua, já que não existe consenso sobre a escrita.

Por enquanto, a normatização é feita com o auxílio de uma linguísta especializada no idioma Guarani, com a participação dos professores indígenas. De acordo com Semeghini, em alguns idiomas caminha-se com mais segurança enquanto em outros, como o krenak, o trabalho encontra-se no início. Segundo ela, “Não há uma língua perfeita”, mas é preciso chegar a alguns parâmetros dentro de cada língua.

Além dessas atividades, funciona no curso um colegiado dos professores indígenas, que se reúne durante duas horas nas semanas de aula, e encaminha decisões sobre a educação de seus povos. Pelo Colóquio, constata-se que ainda existe muito a ser discutido como, por exemplo, a própria normatização da língua, já que, no final do encontro, Francisca Navantino, professora indígena de Aparecida, em Mato Grosso, afirmou que ainda não deve ser realizada a normatização, porque há o receio de se perderam os dialetos que existem dentro de cada grupo. Para Navantino, “Isso ainda precisa ser muito amadurecido”.

Durante os dias 15 e 16 de agosto, a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – FEUSP – realizou o Colóquio Formação Intercultural Superior de Professores Indígenas do Estado de São Paulo, no Auditório da Escola de Aplicação. O intuito do Colóquio foi discutir o projeto de mesmo nome, que consiste em um curso superior com duração de três anos, oferecido pela unidade e promovido pelo governo estadual.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br