São Paulo (AUN - USP) - A reconstituição do processo da daguerreotipia, técnica que deu origem à fotografia, foi explicada pelo fotógrafo Francisco Moreira da Costa em palestra realizada recentemente na USP. Segundo ele, a daguerreotipia foi introduzida no Brasil em 1840 e um dos primeiros adeptos da nova arte no país foi o imperador Dom Pedro II. A palestra foi a primeira parte do curso “Ateliê de daguerreotipia”, recentemente ministrado por Costa na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).
Esse método foi criado em 1833 por Louis Daguerre, na França, e se popularizou com rapidez em meados do século XIX, até ser substituido por processos fotográficos mais baratos e que permitiam reprodução das fotos. No entanto, ainda hoje pessoas como Costa se dedicam a produzir daguerreótipos contemporâneos, perpetuando o conhecimento dessa técnica. O daguerreótipo tem a vantagem de produzir imagens mais nítidas do que o filme fotográfico.
Costa teve muitas dificuldades para aprender a fazer daguerreótipos. A principal delas foi a dificuldade de obter conhecimento. Precisou buscar informações em livros antigos e principalmente pela internet, através da qual conseguiu contato com pesquisadores estrangeiros, alguns dos quais se recusaram a passar qualquer informação que ajudasse a refazer o processo.
Outra dificuldade foi o fato de que a daguerreotipia lida com produtos extremamente tóxicos, como iodo, bromo e mercúrio. No processo original, as placas de cobre polido eram tratadas quimicamente com sais de prata e depois sensibilizadas com bromo, iodo e vapor de mercúrio, em caixas abertas, o que punha em risco a vida dos daguerreotipistas. Costa, que tem formação de químico, usou seus conhecimentos para criar um design mais seguro para os equipamentos. “Minha intenção não é fazer uma réplica”, diz ele.
Há ainda o problema da conservação dos daguerreótipos. Como eles são muito sensíveis, precisam ser imediatamente lacrados após a revelação. De acordo com Costa, a maioria dos danos causados a daguerreótipos ocorre por causa de rompimento no lacre, levando à perda da imagem.
No curso, Costa ensina como preparar as placas de cobre, que devem ser polidas e lixadas até ficarem como um espelho. Depois, elas são sensibilizadas com iodo ou bromo, num processo delicado que pode alterar a tonalidade das fotografias. Também ensina como fazer a exposição, revelação, viragem em ouro e montagem dos daguerreótipos. O produto final é uma fotografia de alta resolução, com efeito visual semelhante ao de uma gravura na qual os tons claros e escuros se alternam conforme o ângulo pelo qual se observa.