São Paulo (AUN - USP) - Filmes falados em português são um atrativo para o público, mas o essencial é ter boas histórias. Essa foi a opinião de Paulo Morelli sobre o maior problema do cinema brasileiro atual, em debate recentemente realizado na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). A discussão, que também contou com a participação de Cao Hamburguer e foi mediada por Carlos Augusto Calil, foi parte da Semana do Audiovisual, organizada por alunos da USP, e tinha como tema as relações entre cinema e televisão.
Tanto Hamburguer quanto Morelli acreditam que a tendência de os cinemas exibirem cada vez mais filmes dublados é positiva, pois “o povo não consegue ler as legendas” e o aumento do acesso aos filmes compensaria a má qualidade do som. Para eles, a obra de arte só se completa quando o público a vê e é essencial que as pessoas entendam o filme.
Morelli critica tanto o cinema que tenta ser popular a qualquer custo quanto os filmes intelectualizados que ninguém assiste. Segundo ele, é perigoso e desleal o cinema fechar as portas para o público. “É possível fazer um meio caminho, um filme sofisticado que consiga se comunicar com o público”. Calil questiona a separação entre cinema comercial e cultural, lembrando que autores como Hitchcock e Almodóvar fizeram filmes voltados para o mercado sem perder a marca autoral.
Com relação às dificuldade de um diálogo entre cinema e televisão, Morelli pontua que este diálogo é possível, pois ambos os meios permitem contar boas narrativas, mas acredita que no cinema é possível ir mais longe. “O cinema é mais sofisticado e sutil, enquanto a TV é redundante, procura chamar atenção”. Já Hamburguer enxerga mais possibilidades na televisão, que aceita produtos menos trabalhados e formas de linguagem que não são possíveis no cinema. Cita sua experiência com o programa “Rá-Tim-Bum”, que foi muito inovador na televisão e não teve tanto êxito como filme: “quando passei para o cinema, só levei a ficção, e não a parte de linguagem, que não daria certo”.
Hamburguer conta ainda que foi sua experiência com a liberdade da TV que o ajudou a ser mais criativo no cinema e que gostaria de fazer um programa ao vivo porque “é algo que não tem nada a ver com cinema”. Já Morelli coloca que o cinema precisa de prática e é assim que se vai aprendendo a filmar. Para ele, tecnologias como o Youtube tornam mais fácil esse processo, pois facilitam o contato com o público. “É preciso treinar a sensibilidade para saber o que o público quer”. Morelli se identifica mais com o cinema do que com a TV, por ser um formato mais narrativo, e conta que quanto trabalhou na televisão procurou sempre se aproximar da linguagem cinematográfica, como em “Cidade dos Homens”.