São Paulo (AUN - USP) - A Escola de Enfermagem da USP vem desenvolvendo um centro de estudos de teleensino. Criado pela professora Maria Madalena Januário Leite, o Cetenf, como é chamado, é o primeiro centro de estudos do gênero do Brasil. O projeto nasceu em maio deste ano e deve ser inaugurado no primeiro semestre de 2008, com um curso de atualização profissional para enfermeiros. Esta deve ser a primeira experiência do Cetenf aberta à comunidade da enfermagem.
“Queremos oferecer aos alunos e à comunidade da enfermagem um vasto material de aprendizado e orientação profissional disponível num ambiente virtual de aprendizagem”, explica Madalena. O centro deve abranger as áreas de ensino, pesquisa e extensão universitária. Nesta primeira etapa do projeto, a professora, auxiliada pela pesquisadora Heloísa Helena Ciqueto Peres, pretende fazer um amplo diagnóstico do ensino na escola.
Identificar os métodos e o apoio pedagógico utilizados pelos professores é o primeiro passo. Terminada esta fase, todos os docentes da Escola de Enfermagem podem iniciar um processo de capacitação para, juntos, desenvolverem o Cetenf.
Muitos professores já utilizam em suas aulas a plataforma Col (Cursos On Line), que permite a inclusão de planos de ensino, cronogramas e programas das matérias. A seção interativa da plataforma, entretanto, é pouco utilizada. No Cetenf, além da interação, o professor poderá disponibilizar vídeos e arquivos de áudio, além dos materiais aplicados em sala de aula. Outra vantagem é que os alunos podem acessar o site a qualquer momento e de qualquer lugar, além de responderem exercícios on-line e participarem de fóruns de discussão e resolução de questões.
De acordo com as professoras responsáveis pelo projeto, os alunos que ingressam na escola já estão ambientados com o ensino virtual, realidade experimentada por muitos deles desde o ensino médio. Na graduação, é comum eles questionarem o método de ensino na sala de aula, com a exposição oral do professor. Mas Madalena é cautelosa ao explicar que não são todas as disciplinas que podem ser disponibilizadas integralmente no sistema. As aulas de laboratório, indispensáveis à formação do enfermeiro, continuarão a ser ministradas in loco.
A legislação brasileira permite que até 20 % do conteúdo dos cursos universitários possam ser ministrados virtualmente. Para a professora Madalena, o sucesso do Cetenf pode significar, ainda, o aumento das vagas para o curso de Enfermagem, que hoje conta com apenas 80 cadeiras para o vestibulando. “Há uma demanda de mercado, a Escola precisa de mais vagas”, diz Madalena. Para ela, o sucesso de um projeto com esse pode abrir caminhos para a reestruturação do curso. Além da interação maior entre os alunos, o projeto pode ser um chamariz para a faculdade e um modelo para a abertura de novas vagas no ensino público superior.
História
Em 1998, a partir de um curso de teleensino na Universidade de Nova York, a professora Madalena pôde acompanhar o desenvolvimento do setor nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, ela criou, juntamente com a professora Heloísa, um CD-Rom pioneiro em didática de enfermagem. Logo depois, defenderia a tese de livre-docência sobre tecnologias educacionais, publicada em 2000.
A partir dessa experiência e acompanhando a evolução natural das tecnologias de informática, as professoras procuraram pelo professor Chan Lung Wen, responsável pelo primeiro projeto de teleensino na área de saúde do Brasil. O “Homem Virtual”, desenvolvido pelo Cetec (Centro de Tecnologia para a prática da Telemedicina) na Faculdade de Medicina, é todo voltado para o programa de saúde da família e hoje engloba as áreas de medicina, odontologia e enfermagem, esta última coordenada pelas professoras Madalena e Heloísa.
Os primeiros materiais disponibilizados para o Cetenf eram vídeos produzidos pelo próprio Cetec. Hoje, apesar de algumas dificuldades estruturais, o centro da Escola de Enfermagem conta com o apoio do setor de informática da faculdade para produzir seus materiais, além de possuir equipamento próprio para as vídeo-conferências.
Mas a parceria com a Medicina continua, já que muitos dos materiais são comuns aos dois cursos. E outras parcerias já estão previstas, com universidades e instituições de saúde. A idéia é que o Cetenf se associe a grupos de trabalho que permitirão o envolvimento de equipes multidisciplinares na formação de novos profissonais.