São Paulo (AUN - USP) - Em conjunto com institutos de pesquisa da Itália, Portugal, Holanda, Chile e Argentina, três instituições brasileiras participam de um consórcio internacional que estuda três estuários latino-americanos e seus ecossistemas. Trata-se do ECOMANAGE, Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras, proposto inicialmente pelo Instituto Técnico Superior (IST), de Portugal, e financiado completamente pela União Européia.
O consórcio de pesquisa busca viabilizar decisões estratégicas para o manuseio de áreas sob risco de colapso ambiental. Um dos três ecossistemas escolhidos para a pesquisa, a baía e estuário brasileiros de Santos é ameaçado pelo crescimento desordenado da cidade, afirma Malva Andrea Mancuso, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Esse estuário é estudado por cientistas do IPT, além de especialistas do Instituto de Oceanografia (IO-USP) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Malva lembra que o estuário de Santos é caracterizado pelos mangues, suscetíveis à poluição. A responsável pela pesquisa dos mangues é a Unisanta.
Além de Santos, o fiorde de Aisén (Chile) e a baía de Blanca (Argentina) são também analisados por pesquisadores das instituições locais conveniadas. Cada pesquisador se dedica à análise de elementos de sua especialidade e, com o intercâmbio de dados entre os envolvidos, as pesquisas se complementam. Os resultados são processados pelos portugueses do IST, idealizadores do projeto e especialistas em análise de águas de superfície.
Especialista em hidrologia de subsolo, no primeiro momento, Malva pesquisou os fluxos dos lençóis freáticos que alimentam o estuário santista. Após determinar as especificidades do local, montou um modelo matemático que permitiu a geração de gráficos. Direção de fluxo, vazão e profundidade dos aqüíferos foram os dados representados. Observou-se o vínculo entre as águas do estuário e as dos lençóis. “As águas de superfície e de subsolo têm ligação umas com a outras”, afirma ela. Quando retiramos água do subsolo, continua, é como se “tirássemos a comida do rio, antes que chegasse à sua mesa”.
Ela começa agora a segunda etapa de sua pesquisa, iniciada quatro meses atrás. Malva adaptará o modelo matemático já desenvolvido para representar também as qualidades químicas e físicas da água desses lençóis-alimento do estuário. “Às vezes é necessário não só refinar o modelo, como também refazê-lo”, explica.
Um dos locais analisados por sua equipe é o Aterro da Lemoa, às beiras do estuário. De acordo com dados preliminares, o solo do aterro está contaminado com metais pesados e benzeno, que se infiltram e contaminam as águas do rio, muito próximo.
As sondagens, de acordo com Malva, devem se estender até o fim do ano, quando haverá uma reunião no Brasil com todos os pesquisadores do projeto. Eles trocam informações com freqüência, através de videoconferências e e-mails.
A União Européia investiu cerca de € 1,4 milhão no projeto desde fevereiro de 2005, quando o ECOMANAGE foi iniciado.