São Paulo (AUN - USP) - Em um mundo onde a comunicação é a chave central das mudanças tecnológicas e comportamentais, não há dúvida quanto à importância dos estudos que investigam os resultados de tantas transformações para a vida do homem comum. Os processos comunicacionais, entretanto, são apenas uma parte do trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa Comunicação e Trabalho, dirigido pela professora Roseli Fígaro, do Departamento de Comunicação e Artes da ECA – USP.
O grupo é resultado de pesquisas que vem sendo desenvolvidas desde 1997 e tem, dentre seus objetivos, o de entender a importância dos processos comunicacionais para o mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, o de perceber como as mudanças ocorridas nesse universo interferem nos produtos culturais e no perfil do comunicador. Por meio de estudos de recepção, a professora Roseli pôde concluir que a relação com o trabalho, para o profissional, tem dois aspectos principais: o da realização e o do sofrimento. “O medo do desemprego e do excesso de tarefas, do aumento do ritmo de trabalho”, explica. Essas características, causadoras do stress, eram também conseqüências de uma série de mudanças no campo tecnológico e comunicacional, como a invenção de uma série de softwares ligados à comunicação que acabaram por dispensar a contratação de vários funcionários. Àquele que fica, porém, sobram mais afazeres.
Segundo Roseli, a comunicação também está intimamente ligada à mudança de sistema adotado para organizar a produção. Como exemplo, ela cita a adoção do sistema toyotista em detrimento do taylorista: “Trata-se de uma organização discursiva. É preciso persuadir, formar equipes de trabalho”. Para que as transformações e mesmo a manutenção do novo modo de produção tenha sucesso, “você precisa de comunicação”, completa a professora.
Por fim, as mudanças no mundo do trabalho resultam em transformações nas empresas de comunicação e acabam por refletir no conteúdo aí produzido. Para Roseli, isso significa que o profissional de comunicação não será mais só jornalista, publicitário ou relações públicas: “O comunicador tem que ser polivalente, tem que transitar entre essas áreas”. E o que hoje é comum entre esses profissionais, o de ser obrigado a trabalhar sem registro, tende a se tornar rotina em outras áreas, como o caso dos professores, que têm que formar cooperativas para serem empregados em faculdades privadas. Essa precarização das relações trabalhistas, ocasionada por uma adesão ao sistema neoliberal, só tende a aumentar ainda mais o medo e o stress com que o empregado realiza suas atividades.
Para a professora, resta uma certeza: a de que ainda existe muito trabalho para ela e para seu grupo.