ISSN 2359-5191

10/10/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 57 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Jornalistas não estão preparados para cobrir a questão agrária

São Paulo (AUN - USP) - Faltam jornalistas preparados para cobrir o problema dos sem-terra no Brasil. Essa foi a opinião de Roldão Arruda, jornalista do Estadão, e Igor Felippe Santos, do setor de comunicação do MST, em debate sobre os bastidores das reportagens a respeito da questão agrária, realizado recentemente na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). Para Arruda, isso ocorre porque os jornais não mantêm pessoas que se especializem nesses assuntos e não investe em matérias investigativas. “Para os jornais, não é interessante sair dos estereótipos e, em assuntos como os sem-terra, a ênfase é maior, porque o tema envolve poder político e econômico”.

Arruda também critica a postura fechada do MST com relação à mídia. “Não se visita assentamento ou entrevista alguém sem um assessor do MST ao lado, então você não pode ver, ouvir”. Para ele, isso ocorre porque, como os sem-terra são muito perseguidos, tendem a ver tudo em termos de bem e mal. “Você não pode falar mal porque é considerado como alguém do mal”. O jornalista também vê esse maniqueísmo na grande mídia, cuja seleção de pautas privilegia as que falam mal do movimento.

Segundo Arruda, a censura de notícias sobre questão agrária é rara. O único caso de matéria dele abertamente censurada foi quando ele fez uma reportagem sobre o primeiro casal lésbico a receber título de assentamento com os mesmos direitos que um casal heterossexual. A matéria corajosa, além de ter de enfrentar a homofobia do próprio MST, que é ligado à Igreja, foi recusada pelo editor e publicada em outros veículos.

Santos classifica os jornalistas que cobrem a questão agrária em cinco tipos: preguiçosos, despreparados, preconceituosos, mal-intencionados e, o mais raro, jornalistas corajosos que acompanham a questão agrária e fazem matérias abrangentes que investigam a raiz do protesto. Para ele, esses problemas acontecem por causa do tempo curto, do desconhecimento sobre o assunto e da formação inadequada dos jornalistas, levando a erros graves, como pensar que o MST funcionaria como uma empresa chefiada por João Pedro Stédile ou a confusão entre o movimento dos sem-terra e o dos sem-teto.

Segundo Santos, veículos como a Veja e a RBS fazem propaganda explícita contra o MST, e não jornalismo. “Depois do massacre de Carajás, a mídia se torna mais agressiva, quando o MST passa a atuar na política e ganhar notoriedade.” De acordo com ele, os grandes meios de comunicação contestam o movimento, exploram suas divisões e contradições e atuam diretamente para sua destruição, por meio de uma campanha de deslegitimação dos sem-terra. Uma das formas de tirar a legitimidade do movimento é tratá-lo como uma luta apenas dos trabalhadores rurais e criticar a “desvirtuação” do MST quando ele se aproxima de outros movimentos sociais, como a luta pela democratização da comunicação.

O escritor e jornalista Alípio Freire diz que, se há dois setores que sempre foram monopólio da classe dominante no Brasil, são a mídia e a terra. Em seu ponto de vista, são interesses ideológicos que definem os assuntos e fontes que aparecem na mídia, e as próprias palavras têm intenções e objetivos claros. Por exemplo, os jornais costumam usar o termo “invasão”, que dá um ar de violência e ilegalidade ao movimento, em vez de “ocupação”. Falta para ele uma isonomia da mídia: “tanto petistas quanto tucanos são criminosos, mas a mídia só fala do mensalão do PT, o mensalão do PSDB é chamado apenas de mensalão mineiro”.

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