São Paulo (AUN - USP) - A preocupação com a sustentabilidade surge hoje nas mais diversas atividades humanas. No setor têxtil e na moda não é diferente. Uma mostra disso foi a III Semana Têxtil e Moda de 2007, realizada recentemente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. O evento teve a preocupação com as gerações futuras como eixo condutor. Na palestra de abertura, a professora Ana Paula Fracalanza, do curso de Gestão Ambiental, falou sobre a origem do conceito, sua alteração ao longo do tempo e sua aplicação atual na moda. Fez ainda um alerta: o conceito de sustentabilidade vem sendo banalizado.
Segundo Ana Paula, o conceito de desenvolvimento sustentável tem suas origens, na década de 1970, no princípio de ecodesenvolvimento, formulado pelo economista e sociólogo polonês Ignacy Sachs. Outros teóricos a contribuir foram Barbara Ward e Rene Dubos, com seu livro “Only One Earth”, onde sugerem que o planeta é vulnerável, finito e interativo. James Lovelock e Lynn Margulis criaram a hipótese Gaia, que propõe que a Terra seria um organismo vivo, com relações de interdependência entre sistemas físico-químicos e seres vivos.
Félix Guattari, outro pensador influente, em “As Três Ecologias”, cria o conceito de “ecosofia” e sugere que é preciso haver uma articulação ético-política entre o que considera os três registros ecológicos – meio-ambiente, relações sociais e subjetividade humana – para se esclarecer adequadamente os problemas ambientais. Cornelius Castoriadis e Daniel Cohn-Bendit, ao defenderem que a ecologia é essencialmente política e não “científica”, devido ao fato de a exploração de recursos ser determinada por processos sociais, econômicos e políticos, também contribuíram para a idéia de um desenvolvimento sustentável.
O conceito consolidou-se na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. Do encontro saiu a Agenda 21, documento que adotou a noção de sustentabilidade como paradigma. A partir de então, de uma origem contra-cultural e à margem da política estabelecida, a preocupação ecológica ligou-se à economia e converteu-se num negócio rentável.
A professora Ana Paula, em sua palestra, apresentou alguns desses novos negócios ambientais na área têxtil e de moda. Um exemplo foi o desfile de roupa ecológica realizado pelo Greenpeace em outubro de 2006 no Parlamento Europeu. Este desfile, onde foram apresentadas peças produzidas por indústrias que abandonaram o uso de substâncias químicas perigosas, apresentava uma tendência: a das fibras naturais, como a fibra de juta, produzida na região amazônica brasileira.
Outra tendência no meio fashion são os corantes naturais, como o produzido a partir do urucum e da mamona. Ana Paula afirma, no entanto, que essas matérias-primas ainda têm produção reduzida, em pequenas lavouras. Um mercado em expansão é o das jóias ecológicas. Feitas de sementes brasileiras, cerca de 1/3 da produção é exportada. A palestrante aponta um perigo nessa crescente demanda: como não há controle ou certificação da atividade do país, pode ocorrer um extrativismo descontrolado, afetando o ciclo de renovação das florestas.
Segundo a professora, a idéia de sustentabilidade é usada hoje para o bem e para o mal. Por um lado, pessoas e empresas sérias e comprometidas estão envolvidas com a questão. Por outro, há uma banalização do conceito, muitas vezes aplicado a iniciativas e atividades que dificilmente podem ser consideradas “ecologicamente corretas, socialmente justas, economicamente viáveis, espacialmente equilibradas e culturalmente aceitas”, como definiu Ignacy Sachs.