São Paulo (AUN - USP) - “Toda mãe que desejar vai ter leite suficiente para amamentar seu bebê”. Esta frase, repetida inúmeras vezes no curso para gestantes, ressoava na mente de Ilva Aragaki. Mas quando teve seu primeiro filho, conseguiu dar de mamar apenas durante dois meses. A criança perdeu peso nas primeiras semanas de vida e a sensação de culpa a consumia. “Eu queria tanto alimentá-lo com meu leite. Por que não consegui?”
Partindo de sua própria experiência, Ilva, formada pela Escola de Enfermagem da USP em 1989, decidiu defender no mestrado a tese de que a ansiedade materna interfere na produção do leite.
Ela explica que quando o bebê mama, os terminais nervosos da glândula mamária enviam uma mensagem para a hipófise, que libera a prolactina, o hormônio que estimula a produção do leite, e, em seguida, a ocitocina, responsável pela liberação do leite. Porém, quando a mãe fica ansiosa, nervosa ou estressada, os neurônios sensoriais da mama param de enviar a mensagem ao sistema nervoso e, conseqüentemente, a produção do leite é inibida.
A pesquisa ainda encontra-se na fase de coleta de dados. Para alcançar seu objetivo, caracterizar o estado emocional das mães que apresentam a hipogalactia, Ilva está entrevistando 84 mulheres que acabaram de ter o primeiro bebê e mais 84 que já tinham outros filhos.
A enfermeira conversa com as pacientes no décimo dia pós-parto e, posteriormente, quando o bebê completa um mês. Segundo a OMS, este é o período de maior índice de desmame. As entrevistas sobre o estado emocional da mãe e os exames para verificar a quantidade de leite são feitos em dois momentos diferentes para que a evolução do quadro possa acompanhada.
Para medir o grau de ansiedade, a enfermeira coleta dados sobre os hábitos das mães, como fumo, bebida e alterações no número de horas de sono e repouso. Além disso, através de um questionário com perguntas sobre autoconfiança, satisfação e arrependimento, traça o perfil emocional e o estado momentâneo delas.
Em seu trabalho, Ilva aponta, além da ansiedade, outras possíveis causas do distúrbio, como pobreza em tecidos celulares secretantes devido a uma cirurgia plástica de redução de mama, choques emocionais, mãe em estado de desnutrição severa, rachaduras no bico do seio e dificuldades que o bebê enfrenta em sugar o leite por ter lábio-leporino.
Segundo a Unicef, o quadro de hipogalactia é comprovado pelos seguintes fatores: o bebê não ganha peso, urina menos de seis vezes ao dia, necessita de alimentação complementar e chora excessiva e persistentemente mesmo após a mamada. Estes indicadores constam do Manual do Curso de Treinamento para Aconselhamento em Amamentação.
Nos depoimentos coletados até o momento, cerca de 70% do total previsto, foram encontrados apenas 30 casos do distúrbio nos graus leve e moderado. Entretanto, o quadro pode ser revertido quando corrigidas as falhas técnicas nas mamadas e amenizando a ansiedade da lactante. Algumas maneiras de amenizar a ansiedade e a insegurança da mãe é a família oferecer-lhe o devido apoio. “Em um ambiente hostil e turbulento, o quadro emocional dela tende a influenciar na quantidade de leite produzida”.
“A hipogalactia existe, mas é rara”, afirma Ilva. “Muitas mães que não querem amamentar por não suportarem a dor ou por razões estéticas e alegam ter pouco leite”.Mas ela explica que é importante alertá-las da importância do aleitamento materno. “Além das vantagens devido ao contato físico com a criança, o colostro traz benefícios para seu sistema imunológico”.