São Paulo (AUN - USP) - Ter orgulho das características que tornam uma cidade diferente das outras é essencial para o turismo urbano. Essa foi a opinião do professor da UFPR José Manuel Gândara em palestra realizada recentemente na USP, durante a V Semana de Turismo. Segundo ele, existe de fato um turismo urbano de lazer, feito por pessoas que querem vivenciar ambientes urbanos diferentes de suas cidades de origem.

Gândara defende que, para estimular esse tipo de turismo, é preciso investir antes de tudo na imagem de uma cidade como destinação turística e em ações de marketing adequadas para atrair turistas. “É preciso pensar no destino como um todo, pois a pessoa vai com um objetivo, mas a imagem que ela leva é da cidade como um todo”.

Para ele, é preciso também ter em mente o tipo de turista que procuraria um certo destino, e pensar maneiras de fazê-lo voltar sempre. Brincando, compara a divulgação de destinos turísticos a um relacionamento amoroso: “Mandar bem não garante fidelidade, tem que mandar flores e bombons. Com o turismo é a mesma coisa: tem que manter o cliente mais satisfeito ainda quando ele voltar”.

O professor acredita que esse é um bom momento para São Paulo investir em sua imagem como destinação turística. Para ele, é preciso criar uma consciência de que São Paulo é um destino turístico e que as pessoas da cidade, com seus costumes e modo de vida, são um dos atrativos para turistas. Lembra ainda que as cidades também podem ser um espaço de lazer: “que cidade brasileira tem mais bares, boates, teatros que São Paulo?”.

Como um exemplo bem-sucedido de criação de imagem de destinação turística, ele cita Curitiba, que se lançou como destino turístico a partir da imagem de uma cidade com alta qualidade de vida, que aumentou a auto-estima dos habitantes.

Segundo Gândara, o turismo urbano tem como principais efeitos o estímulo à economia, a manutenção da cidade no imaginário coletivo e a modificação no cotidiano dos próprios moradores, como ocorreu, por exemplo, na Espanha, onde o aumento do turismo levou a uma abertura na mentalidade das pessoas. Para ele, o turismo não é isolado dos outros setores, como a economia e os transportes.

Entre os casos de sucesso, Gândara cita Nova Iorque, Valência, Turim, Porto Alegre, Curitiba e Barcelona. De acordo com ele, o êxito dessas cidades se deve a um trabalho para recuperar a curiosidade das pessoas em conhecerem estes lugares, o que se torna especialmente difícil quando a cidade tem uma imagem negativa.

Uma das estratégias apontadas foi a promoção de eventos de grande porte, como o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, as Olimpíadas de Inverno de Turim ou os Jogos Olímpicos de Barcelona.

Gândara deu especial destaque ao caso de Barcelona, que percebeu a necessidade de organizar grandes eventos periodicamente e, após as Olimpíadas de 1992, se modernizou com uma nova infra-estrutura e uma percepção melhor das qualidades e defeitos do lugar em comparação a outras cidades européias. Com isso, aumentou a qualidade de vida e o dinamismo da economia local, criando nos habitantes um orgulho de morar em Barcelona, bem como a percepção de que o turismo é benéfico à cidade.