São Paulo (AUN - USP) - “Aqui arte contemporânea é luxo”, afirmou Laymert Garcia dos Santos, professor titular de Sociologia da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em palestra ministrada no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O professor comparou os investimentos em arte no Brasil e na Europa, comentando que, no Velho Mundo, toda cidade, para “estar no mapa”, deve ter um bom museu de arte contemporânea. “No Brasil, que diretor de museu tem essa cabeça?”, questionou.
A palestra, intitulada Aceleração total e a percepção da arte, faz parte do CAP 2007, que, além de promover oficinas e seminários, expõe trabalhos dos alunos no Departamento. Santos, ainda em relação ao investimento em artes, afirmou que, a despeito da arte contemporânea, mesmo na Europa, ter como público alvo as elites locais, é importante que ela seja produzida, porque isso implica uma reflexão constante: “O que interessa é a problematização da situação”, explicou o professor. Ele acredita que, se o trabalho artístico for forte, a estrutura do museu – boa ou ruim – não é capaz de diminuir sua importância.
Para contextualizar o tema da discussão, Santos apresentou alguns trabalhos que acredita essenciais para a análise da “aceleração total”. Foram eles: o da bióloga Donna Haraway, o do Buckminster Fuller e o do japonês Fumio Kodama. Donna, que escreveu o Manifesto dos Ciborgues nos anos 1980, acreditava que, apesar de sermos ensinados que somos animais, a ciência nos trata como informação, como um “cybernetic organism” (organismo cibernético). Ela tentou estudar as implicações políticas desse dado. Fuller, seguindo em direção semelhante, afirmou que, melhor do que atuar na política seria trabalhar com tecnologia. Porque, com a política, temos que convencer as pessoas e trabalhar com sua consciência, ao passo que, com a tecnologia, podemos mudar a forma de os indivíduos raciocinarem ao mudar o mundo a sua volta.
Kodama, por outro lado, trabalhou a aceleração constante da evolução tecnológica. Para o estudioso, no atual cenário, o trabalho científico é valorizado, em detrimento dos outros tipos. Mas o que essa aceleração, nunca antes vista, significa para a arte? Uma das implicações, para Santos, é o uso de suportes. A pintura e a fotografia, por exemplo, perdem potencial, porque não poderão ser atualizadas. Ele ainda afirma que, na sociedade contemporânea, o bom artista será aquele que saberá usar os meios disponíveis.