ISSN 2359-5191

05/11/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 73 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Novas tecnologias são úteis, mas é preciso valorizar cultura e história

São Paulo (AUN - USP) - As tecnologias facilitam a vida, mas é essencial manter a cultura e a história, que permitem estabelecer nexos entre o presente e o passado. Essa foi a opinião da professora Cremilda Medina em palestra recentemente realizada na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). Ela valoriza a cultura pela sua permanência, ao passo em que as tecnologias sempre mudam.

A professora ainda disse que não existe distinção entre cultura popular e erudita, nem entre uma arte maior e uma arte folclórica: toda arte é necessária. Segundo ela, cultura significa, antes de tudo, dar significados às coisas, e é por meio das narrativas e símbolos que formam a cultura que o homem deixa sua marca na História.

Por isso, Medina critica a postura do jornalismo de se prender a modelos como colocar os lados “a favor” e “contra” numa discussão. Para ela, o comunicador deve ser um mediador nos conflitos, e trabalhar com a multiplicidade de vozes e significados na narrativa que produz, ou seja, dialogar com a cultura da sociedade em que vive. Por isso, considera que há uma relação próxima entre comunicação e cultura, e elogia a iniciativa da ECA de colocar os cursos de comunicação e de artes numa mesma unidade, permitindo intercâmbio entre as áreas.

O tema da palestra, “Comunicação e Cultura”, foi escolhido em homenagem ao professor Virgílio Noya Pinto, recentemente falecido, que se destacou no estudo dessa área. Segundo Medina, uma de suas principais contribuições foi o estudo da História da Comunicação e a atenção voltada para as mudanças na mentalidade das pessoas durante a História. Entre os principais trabalhos dele se destacam o estudo da transição do século XIX para o XX e o mapeamento do fluxo do ouro do Brasil para a Europa durante o período colonial.

Medina também mencionou outros professores falecidos da ECA que, para ela, deveriam ser lembrados. Um deles é Egon Schaden, que, para ela, se destacou pelos trabalhos na área de antropologia e procurou dialogar com o pensador canadense Marshall McLuhan para a criação de uma disciplina de antropologia da comunicação. Entre os trabalhos de Schaden, ela lembra um estudo de antropologia visual realizado em uma comunidade que não tinha luz elétrica, o qual, segundo ela, foi abortado devido à repressão da ditadura militar.

Outro nome lembrado foi o do professor e crítico teatral Décio de Almeida Prado, que iniciou os estudos acadêmicos sobre a obra de Nelson Rodrigues e trouxe o próprio dramaturgo para a ECA. Para Medina, Prado era um excelente professor por apresentar a pesquisa e despertar o interesse dos alunos em pesquisar, ao invés de vir com um cronograma rígido e simplesmente repassar informação aos alunos.

Ela enfatiza a necessidade dos professores terem uma atitude de pesquisa e gestão de conhecimento, estimulando os alunos a criarem conhecimentos novos em seus trabalhos de pesquisa, e não meras resenhas de livros: “Não admito que alguém gaste dinheiro público passando quatro anos na ECA sem produzir conhecimentos novos e dar retorno à universidade. É impossível passar pela universidade e não deixar uma marca autoral.”

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