ISSN 2359-5191

23/11/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 83 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Enfermeiras estudam riscos da Aids na mulher

São Paulo (AUN - USP) - A geração que cresceu na década de 1990 já não se assusta tanto quanto a do período anterior quando o assunto é Aids. Medidas preventivas como o uso da camisinha, que pelo menos no discurso passou a fazer parte da iniciação sexual dos jovens, e a disseminação do coquetel de medicamentos para combater o vírus HIV transformaram a infecção numa doença crônica.

Se no começo a epidemia era vista como típica de grupos chamados “de risco”, nos quais se enquadravam homossexuais e usuários de droga, agora a realidade é que a Aids pode atingir e pertencer a qualquer um, como revela o crescente número de casos entre mulheres casadas e heterossexuais.

É para estudar a disseminação da doença nessas mulheres que se volta o GPETHIN, Grupo de Pesquisa em Enfermagem sobre a Transmissibilidade do HIV em Mulheres, coordenado pela Prof.ª Neide de Souza Praça, livre docente e chefe do Departamento de Enfermagem Maternal, Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem.

Ela explica que a Aids em mulheres casadas tem conseqüências terríveis não só para suas próprias vidas, mas também para a de suas famílias. “A presença da Aids na mulher casada pode significar não apenas uma condenação para a mulher, mas também a evidência de que uma harmonia familiar que ela acreditava existir estava sendo quebrada há tempos”, diz. Isso porque na maior parte dos casos estudados pelo grupo é o homem, normalmente pai de família, que leva o vírus para o centro do casamento, com práticas sexuais irresponsáveis fora dele.

Muitas vezes a mulher tende a perdoar a traição do marido, como se ele tivesse sido seduzido por um portador do vírus. Nesses casos, é preciso entender a situação como um todo. Às vezes, torna-se mais confortável e menos doloroso manter o casamento como ele estava antes da contaminação, até mesmo para que os casados possam enfrentar a doença juntos. “Muitas dessas mulheres passam a cuidar de si mesmas e do próprio marido depois da descoberta”, diz a professora.

Outra situação comum no GPETHIM, que às vezes pode aparecer juntamente com a traição do marido, é a descoberta da gravidez. Nesse caso, diagnósticos soropositivos sobre os recém-nascidos podem não se confirmar. Os bebês passam por diversos testes até completar um ano e meio. Somente nessa idade pode ser feito um diagnóstico definitivo. “Um resultado negativo no exame de HIV representa uma conquista e um sopro de vida para os pais que estão juntos. A alegria dessas mulheres é impressionante nesses casos”, conta a professora.

O comportamento de mulheres com mais de 50 anos diante da Aids também vem sendo estudado pelo grupo. Uma dissertação orientada pela professora Neide e defendida por Daniela Angelo de Lima acompanhou mulheres não infectadas de uma comunidade de baixa renda e a maneira como elas vêem a doença. O resultado, segundo Neide Praça, pode ser perigoso. “Elas não se aceitam como sujeitas à contaminação e ainda acreditam que a Aids só se pega, no caso delas, através de infecções hospitalares ou em cadeiras de dentistas.”

Neide alerta que hoje grupos de recreação de mulheres solteiras ou viúvas nessa faixa de idade podem expor as mulheres ao vírus. Por isso, a professora atualmente termina de redigir um projeto que pretende complementar a pesquisa de Daniela Angelo de Lima. A idéia é fazer a intervenção na comunidade para que haja uma verdadeira mudança de comportamento. O número crescente de casos de Aids entre mulheres maduras e a velha idéia de que a doença é sempre uma coisa “do outro” prova que o esclarecimento e a prevenção continuam sendo o melhor remédio.

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