São Paulo (AUN - USP) - O maior problema da TV digital é determinar quem vai ter o sinal aberto no novo sistema. “Quem é que vai ter o sinal aberto, a TV do Lula, as TVs comunitárias, universitárias, os atuais canais abertos?”, questiona Luiz Fernando Santoro, professor da Escola de Comunicações e Artes. “Esse que é o debate mais quente. Se a TV comunitária sair da restrição do cabo, ganha mais impacto, mas a sociedade não está brigando por isso, só os canais universitários e comunitários”.
Para Santoro, a grande vantagem da TV digital é o número de canais e a possibilidade da interatividade. Considera positiva a escolha do modelo japonês, por ser um sinal terrestre, de melhor qualidade para transmissão nas condições brasileiras. Porém, ressalta que, a curto prazo, a única mudança para o consumidor brasileiro é a qualidade da imagem, que será igual à da TV a cabo.
Com relação à democratização da comunicação, Santoro acredita que a resolução desse problema não passa pela TV digital, que é apenas uma nova tecnologia. Pelo mesmo motivo, não concorda com a ação de inconstitucionalidade da TV digital movida pelo PSOL.
O grande problema, para ele, é a democratização do conteúdo, que só seria possível com políticas públicas que estimulassem as pessoas a produzirem televisão. “Por que não se importa câmeras e softwares sem imposto? É preciso políticas públicas para uma produção independente de qualidade, não com a câmera ou o som ferrado, para permitir que mais pessoas façam TV”.
Ele vê essa possibilidade na internet, cujos recursos podem ameaçar a atual hegemonia da televisão. “Na internet, quando for possível fazer TV com qualidade, tudo isso vai pro saco. Veja o Youtube, na hora em que tiver qualidade no Youtube, as emissoras de TV vão estar ameaçadas”. Por isso, considera que a TV digital é uma questão secundária, quando a tendência é a IPTV, a transmissão de televisão pela internet.
Santoro aponta duas principais tendências para a televisão nos próximos anos: a do home theater, com telas grandes e alta qualidade de imagem e som, para o lazer, e a da mobilidade em aparelhos portáteis como celulares e iPods.
Porém, não arrisca previsões catastróficas com relação à TV tradicional. “Aquele mundo da TV, com filmes, novelas, seriados, desenhos animados, está ameaçado, mas não vai acabar”. Vê a possibilidade de um dia a internet complementar a televisão, funcionando como um grande arquivo no qual se pode ter acesso a filmes de graça a qualquer hora e em qualquer lugar.
Santoro compara esse momento com o da invenção do VHS, que ao contrário do que se previa, não acabou com o cinema, mas, pelo contrário, ressuscitou essa linguagem. Mas alerta para os riscos de qualquer previsão para o futuro: “o que era a internet em 99 e o que é hoje? Mudou completamente. O mundo audiovisual no futuro pode ser muito mais intenso.”