São Paulo (AUN - USP) - João acabou de passar no vestibular da mais conceituada faculdade do país: a Universidade de São Paulo (USP). Cursará música pelos próximos cinco anos. Mas seu maior desejo não é tocar em uma orquestra: ele quer ser professor, quer trabalhar com crianças. João ainda não sabe, mas seu curso tem uma estrutura peculiar: primeiro vai aprender música, depois vai fazer algumas poucas disciplinas na Faculdade de Educação da USP (FEUSP), onde dividirá a sala com pessoas de outros cursos. O professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) Pedro Paulo Salles, na Mesa de Debates Tendências e Perspectivas para a Formação e a Atuação Profissional em Educação Musical, explicou como um grupo de docentes está lutando para mudar a formação de alunos como João, que, apesar de fictício, reflete a realidade de grande parte dos alunos do Departamento de Música.
“O curso de licenciatura não vai mais ser só complemento”, afirma Salles, doutor em educação e Especialista em Educação Musical. Integrante da Comissão Permanente de Licenciatura da USP, criada em 2001, ele conta que há um problema em integrar a área específica e o que se havia aprendido na FEUSP. A Comissão pretende, então, levar a licenciatura para dentro das unidades, fazendo o aluno ter contato com as disciplinas desde os primeiros anos do curso. Em música, as mudanças têm objetivos mais específicos: “Como saber atuar nas diferentes realidades, não só nas escolas, mas em outros ambientes, mais ou menos formais”, completa o professor.
No debate, mediado pelo também professor da ECA, Gil Jardim, houve um consenso em relação à necessidade de alterações na formação dos educadores de música. Susana Ester Krüger, especialista em Administração de Instituições de Ensino, comentou algumas das mudanças que devem ser feitas nas competências da licenciatura e ainda questionou a forma como a disciplina de Artes é ministrada no ensino básico brasileiro: “Cada cidade faz de uma forma, cada escola faz de uma forma”, critica.
Teca Alencar de Brito, convidada da mesa, com mais de 30 anos de experiência no ensino a crianças e jovens, afirma que é essencial que o professor saiba escutar: não só a música, mas os alunos. O ideal é “aprender do aluno o que ensinar e não chegar com tudo pronto”, explica.