ISSN 2359-5191

05/12/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 91 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Criação de células-tronco sem embriões só daqui a 5 anos, no mínimo

São Paulo (AUN - USP) - Recentemente a notícia de que cientistas norte-americanos, da Universidade de Harvard, criaram células-tronco a partir da pele humana causou alvoroço na comunidade médica ao redor do mundo e trouxe mais esperança a seus milhares de pacientes. A epidemiologista Primavera Borelli, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, ressalta que as novas descobertas abrem uma grande perspectiva e são, de fato, uma possibilidade terapêutica, que já traz efeitos positivos com a regeneração de tecidos lesados em modelos animais. Mas pondera: "esses resultados precisam ser vistos com cautela, pois ainda são preliminares. Os estudos nessa área da biotecnologia são recentes, tendo em vista que tumores têm de cinco a seis anos para se desenvolver, a mesma 'idade' que possuem".

De cinco a dez anos é o tempo que, em média, um novo medicamento demora a ser produzido em laboratório, sendo este um processo mais simples, já que parte de moléculas são sintetizadas. A aplicação da nova tecnologia nesse período é cogitada em uma perspectiva essencialmente otimista. "O desenvolvimento de um método inovador passa por várias etapas. Começa in vitro, depois passa à escala animal - primeiro em roedores, depois para porcos, cães e primatas, e, por fim, em humanos", esclarece a professora.

A técnica discutida, que pode revolucionar a medicina é, no momento, uma terapia experimental. Primavera explica que a descoberta foi possível a partir da introdução de um vírus (no papel de transportador) em uma célula madura (especializada da pele, no caso), modificando sua ativação gênica, voltando ao estado de célula-tronco. Esse fenômeno é conhecido como desdiferenciação, e é comum em plantas. "Acredito que os cientistas se basearam na procura de genes presentes nas células-tronco ativos em outras unidades", afirma.

A professora considera que ainda não há um grau satisfatório para uma aplicação prática segura dessa tecnologia. Para ela, a introdução de um vírus na célula é um ponto a ser discutido: "alguns vírus apresentam potencial oncogênico, ou seja, são capazes de gerar tumores. Há também o risco de uma disseminação viral para outras regiões. E não se sabe quanto tempo essa célula vai continuar sendo primária, se poderá se diferenciar adequadamente nos tecidos desejados e por quanto tempo as lesões estarão recuperadas".

Apesar das discussões em torno da segurança questionável, o dilema ético gerado pelas pesquisas com células-tronco se mostra não menos importante. O uso de embriões humanos na regeneração de tecidos é assunto polêmico. Mesmo Primavera confessa que, particularmente, é contra o uso de células-tronco embrionárias. "Essas já são seres vivos na minha concepção. Nada justifica tirar uma vida em proveito de outra", afirma.

Os cientistas acreditam que as pesquisas sobre o tema poderiam proporcionar a cura de várias doenças, entre elas a diabetes e o Mal de Parkinson, e diminuir o risco de rejeição em caso de transplantes. Há diversos núcleos de estudos com células-tronco na USP, por exemplo, no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), no Instituto do Coração (Incor) e no Campus de Ribeirão Preto, sob a coordenação dos professores Lygia da Veiga, Mayana Zatz e Júlio César Voltarelli.

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