São Paulo (AUN - USP) - Mais valiosa marca do mundo, estimada em 67 bilhões de dólares, a Coca-Cola surgiu em 1886 nos Estados Unidos e, quase 60 anos depois, se instalou no Brasil. Apesar de toda tradição e renome, uma grife que se preze sabe se reinventar. Em janeiro, a Coca Zero chegou ao País para conquistar o paladar dos brasileiros com a sedução da baixa quantidade de calorias. Mas até que ponto sabor e boa forma andam juntos? Ursula Lanfer Márquez, professora do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, responde: "o sabor da Zero se aproxima muito do sabor da Coca-Cola tradicional, mas com a grande diferença de não conter açúcar e não fornecer calorias. Reduzido conteúdo calórico também pode ser encontrado na Coca Light. Essa, no entanto, contém dois edulcorantes artificiais: o aspartame (24 mg/100 ml) e o acessulfame de potássio (16 mg/100 ml), enquanto a Zero apresenta uma mistura desses dois mais o ciclamato de sódio (24mg/100ml)". Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o termo Light é aplicável a produtos com, no máximo, 20 calorias por 100ml e Zero, a 4 calorias. Já os Diet – em desuso quando o assunto é bebida – apresentam restrição de algum nutriente e podem conter até 0,5g deste em 100 ml.
Embora a Light já detivesse sua fatia do mercado, a Coca Zero veio com a missão de salvar a fabricante de uma crise que a abalou no início dos anos 2000. Neville Isdell, atual presidente da Coca-Cola, em entrevista à revista Veja, esclareceu a estratégia da empresa. "É uma questão de escolha. Existem pessoas que não desejam consumir tanto açúcar – e elas já tinham a opção da Coca Light", e completa: "o que não tínhamos conseguido antes era um sabor tão próximo ao da Coca quanto a Zero. Isso prova que as pessoas gostam do sabor original. E isso é que fez a diferença. A opção já existia, mas a distância de sabor em relação ao do produto original era maior. Essa é a razão do bom desempenho da Zero em todo o mundo, mais do que qualquer outra coisa. Se as pessoas resolveram cortar calorias, não tem problema: nós daremos a elas opções com o sabor mais próximo possível ao da Coca-Cola original". Neste trimestre, os lucros foram 13% maiores.
Do ponto de vista nutricional, Soraia Covelo Goulart, chefe da Seção de Dietética Hospitalar do HU, explica que "os refrigerantes tradicionais não contribuem com proteínas, gorduras e vitaminas, apenas com carboidratos na forma de açúcar, o que pode favorecer o aumento de peso, se consumido em excesso. Já os refrigerantes Zero e Light praticamente não contêm calorias, da mesma maneira. O nome é mais uma questão de marketing". Os dois produtos só se distinguem significativamente se forem consideradas as características particulares de cada um dos edulcorantes, tanto no poder adoçante como no perfil de sabor.
"Todos os edulcorantes aprovados para alimentos, incluindo estes presentes na Coca-Cola, foram avaliados recentemente por comissões internacionais. E seu uso só foi autorizado com a aprovação de três critérios", garante Ursula. São eles: não apresentar qualquer risco à saúde do consumidor quando ingeridos nas quantidades estabelecidas pela legislação, sua utilização decorrer de uma necessidade tecnológica e o consumidor não ser induzido em erro pelo uso do aditivo. "Deve ser salientado que estes valores vêm sendo constantemente revisados, sempre que há novos dados científicos", afirma. No Brasil, foram estabelecidas as seguintes quantidades aceitáveis de ingestão diária para cada um dos edulcorantes em questão: aspartame, 40 mg/kg de peso corporal; acessulfame de K, 15 mg/kg; e ciclamato de sódio, 11 mg/kg – sendo que, na Europa, essa quantidade foi reduzida recentemente para 7 mg/kg.
A professora alerta que "é comum pessoas desavisadas ingerirem ao longo do dia não somente refrigerantes, mas também chocolates, pudins, geléias, gelatinas, barras de cereais, adoçantes de mesa, todos com substituição total ou parcial do açúcar por edulcorantes de modo que a soma ultrapassa a ingestão diária aceitável desses aditivos com prejuízos para a saúde". Para a Associação Americana de Dietética (ADA), por sua vez, os refrigerantes não se mostraram prejudiciais à saúde, pois uma ingestão nociva seria em torno de uma lata a cada 8 minutos. Pessoas hipertensas, contudo, devem observar no rótulo de todas as embalagens a quantidade de sódio fornecida por porção e controlar seu consumo.
Por fim, para quem tem o objetivo de controlar o peso ou é diabético, os refrigerantes diet, light e zero são, de fato, uma opção menos calórica do que um suco natural de frutas como laranja, manga e mamão. Mas a nutricionista recomenda que "uma opção mais saudável é preferir sucos diluídos e com pouquíssimas calorias como os de acerola, maracujá, limão, caju e melancia".
Aos consumidores vorazes das bebidas gaseificados, entretanto, as inovações não param por aí. Isdell anunciou que, nos Estados Unidos, a moda agora é a Diet Coke Plus: refrigerante enriquecido com vitaminas B6 e B12, zinco e magnésio.