São Paulo (AUN - USP) - Não é de se espantar que a formação de professores seja tema de debates da Feusp. Oxigenar práticas formativas é um imperativo, ainda que não seja óbvio um retorno à docência. Os resultados da avaliação do Brasil no Pisa 2006, Programa Internacional de Avaliação de Alunos, tomaram as páginas dos jornais de grande circulação esta semana. Numa das entrevistas, a secretária de educação do Estado afirma que um problema central é que os professores estão sendo mal-formados nas universidades. Mesa da 5ª Semana da Educação, da Faculdade de Educação da USP, realizada recentemente, discutiu o que acontece dentro da uma das mais renomadas universidades do país. A fotografia detalha problemas com a licenciatura, os estágios e os regimes de trabalho dos professores.
É alarmante ouvir que a graduação tem sido um rito de passagem nas universidades, o que traduz a lógica da educação como mercadoria, contra a da resposta social que a formação deve dar durante e imediatamente após sua feitura. “Estamos lidando com um esfarelamento do conceito de universidade”, diz Selma Garrido, professora da Feusp que está Pró-Reitora de Graduação da Universidade, afirmando que a USP só estará cumprindo seu papel quando fizer diferença nas escolas das redes pública e privada, quando for interlocutora das comunidades e dos professores.
Selma Garrido lembra que a formação de professores tem a ver com a construção da identidade da própria faculdade. Ela ressalta a importância do professor para as práticas sociais e vê extrema importância no papel do educador como mediador, tendo em vista que a chamada “sociedade da informação e do conhecimento” precisa, sim, de um sujeito com formação contínua e permanente, auxilie na interpretação destas “novas” realidades. É com imperfeições, contudo, que isto se dá no seio da USP.
A Licenciatura, em muitos cursos da USP, começa a ser pensada apenas no final do curso, atendendo a um modelo em que o estudante passa três anos estudando conteúdo específico de sua área e um ano tentando mediar seu conhecimento com o conteúdo pedagógico. “As unidades, tenham ou não a definição da licenciatura do vestibular, ela têm de cuidar desses cursos desde o início”, explica Sonia Penin, diretora da Feusp, apontando que o projeto da Pró-Reitoria de Graduação para reformulação das licenciaturas, aprovado em 2004 pelo Conselho Universitário, já ganha contornos em uma Comissão Interunidades de Licenciatura (CIP). Além de tentar sanar a superlotação e falta de vagas para licenciatura de outras unidades na Feusp, o programa prevê a inclusão de disciplinas da licenciatura ao longo dos currículos, com fins de construir conhecimento pedagógico sobre os temas específicos.
Sonia Penin chama atenção para um elemento crucial do trabalho científico (ou seja, do que se desenvolve na USP em forma de pesquisa, ensino e extensão): “Só podemos pensar teoricamente sobre estas questões, só podemos checar os conceitos, se (eles) estão respondendo à minhas indagações e as minhas compreensões do atual”. Para acender a chama das perguntas, Penin defende um programa de estágios em que as protagonistas sejam as escolas e os estudantes conheçam a fundo a história e as práticas da comunidade escolar a que são enviados – não apenas cumpram obrigações. Segundo ela, a escola deve ser conhecida de forma radical, pois “a docência e a vida escolar devem ser prioridade em qualquer projeto”, em especial quando falamos da escola pública.
E quando o assunto é docência, a voz da representante discente Indira Arruda não pode ser deixada de lado: ela testemunha que o as discussões todas do movimento estudantil em Pedagogia defendem a docência como foco de atuação do pedagogo – ainda que a formação não aponte para isso e que o estágio ideal, que faria pesquisa em ação, de Penin não exista realmente.
“Estamos em um momento importante de inflexão de uma mudança que pode ser feita na Universidade de São Paulo”, exaltando a efetivação da CIP. O discurso é louvável, mas as falhas são notáveis. Basta checar o sítio da Feusp para ver que, ainda que haja cursos gratuitos para formação de professores não participantes da comunidade acadêmica, muitos cursos cobram pela participação. Sinal de que a universidade pública está preocupada com a formação de professores, mas talvez não tanto com a formação dos da rede pública.
A docência no mundo do trabalho
Na esteira das professoras, Romualdo Portela de Oliveira, também professor da Feusp, faz alertas em relação ao que os professores (recém-formados ou não) encontram em seu dia-a-dia trabalhista. “Temos hoje instituições de ensino superior que não contratam mais professores, contratam cooperativas”. Isto é um mecanismo que ataca a estabilidade do professor, para citar só um exemplo, sem contar baixa remuneração e falta de políticas para formação permanente, do que vem se configurando neste cenário.
Contrário à formação fragmentária – porque acredita que o trabalho estritamente especializado deve ser suplantado pelas máquinas -, o professor se questiona sobre o preso das formações teórica e prática, deixando clara uma componente instrumental (no bom sentido) da docência: ela tem que servir para alguma transformação imediata ou a curto prazo. Para ele, é preciso incorporar a formação prática a uma base sólida teórica – o que rompe com a idéia do estágio como atividade só do aluno e o coloca no lugar das parcerias que a universidade deve estabelecer, agora sim, a longo prazo.