ISSN 2359-5191

21/09/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 14 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisador critica controle sobre o que crianças assistem na TV

São Paulo (AUN - USP) - A nova lei de radiodifusão traz de volta às páginas de jornal discussões acerca da qualidade dos programas de TV e de sua influência negativa sobre as crianças. Enquanto a lei mais uma vez é omissa nessa questão, os pais, preocupados com as cenas de sexo e violência a que seus filhos são expostos, apóiam a introdução de um chip nos aparelhos de TV, dispositivo que lhes permitirá controlar a programação que as crianças poderão assistir.

Segundo Claudemir Edson Viana, pesquisador do Laboratório de Pesquisas sobre a Infância, Imaginário e Comunicação (Lapic) da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA/USP), o chip não passa de um instrumento paliativo a serviço da indústria cultural, que com a aparente pretensão de defender os direitos da criança, acaba por delimitar seu acesso a um único modelo moral. “A unanimidade representa perigo de poder ideológico, um risco constante, mesmo quando o produto cultural prima pelo gosto estético e moral”, alerta Claudemir.

Um dos desenhos mais adorados das crianças, o japonês Pokémon, é considerado pelos pais muito violento. Para Claudemir, tal avaliação depende de referências culturais. “É bom lembrar que para a cultura oriental, lutas não significam a mesma coisa que para os ocidentais. Lá o roteiro se pauta pela questão do respeito ao mais forte e a hierarquia dos poderes, sobretudo com modelos éticos, dentre seus personagens”.

Uma pesquisa analisou a recepção de falas de 311 crianças e concluiu que o conteúdo dos desenhos animados auxilia o desenvolvimento cognitivo, emocional e psicológico. Outra pesquisa revela ainda que, ao contrário do que pensa o senso comum, não há relação de causa e efeito entre a violência na TV e o comportamento anti-social de certas crianças. “A violência não está nos filmes, mas na sociedade”, afirma Claudemir. “A criança não está passiva diante da TV. Ela sabe discernir entre ficção e realidade. Somente em situações-limite, de ausência de controle psicológico e emocional, a criança pode passar a apropriar-se de elementos da ficção e utilizá-los no mundo real, como uma forma de reação. Mas estamos falando de exceções, e não de regras”, explica.

Trata-se de doenças sociais, que têm como origem a falta de estrutura familiar – pais enfrentando problemas com drogas, bebidas, agressão física dentro de casa, pais ausentes. A criança tende a buscar referências no adulto mais próximo. Quanto maior for a ausência dos pais, mais importância assume a TV na construção dos seus valores. O educador ressalta que culpar a TV por todos os distúrbios no comportamento infantil isenta o adulto da responsabilidade de intervenção. “Definição de limites negociados pela família, onde a criança está de acordo com os limites definidos, e o faz dialogando sobre o porquê de se achar tal programa banal: isto é a educação para os meios”, conclui.

Para Claudemir, a lei deve garantir que a comunicação seja um instrumento pela sociedade, e não a serviço de grupos de poder: “A qualidade de programação televisiva pode ganhar mais ao demonstrar respeito ao seu receptor, seguindo limites como classificação de programas por horário e faixa etária”. Mas ressalva que não se trata de impor programas culturais sobre programas comerciais, uma vez que existem péssimos exemplos para todos os casos. “Pode-se melhorar a qualidade da TV participando e promovendo situações de estudo e reflexão sobre a programação televisiva; desenvolvendo a prática da observação, avaliação, escolha”, acredita Claudemir. “A ação responsável de escolha de canal e programa é a atitude a nos preocupar em desenvolver em nossos jovens”.

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