São Paulo (AUN - USP) - A Listeria monocytogenes é uma bactéria existente em uma série de alimentos, como os derivados de leite e carnes em geral. Ela representa uma ameaça à saúde, já que é conhecido o potencial patológico dessa bactéria. Sua presença pode causar males como o aborto, meningite e parto prematuro, especialmente em indivíduos com o sistema imunológico debilitado, casos de gestantes, idosos e portadores de Aids.
Evitar a multiplicação dessa bactéria é o objetivo do trabalho desenvolvido por Alcina Maria Liserre, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Para tanto, ela realizou estudos com amostras de linguiça frescal refrigerada que continham a bactéria. Os estudos verificavam o comportamento da Listeria monocytogenes sob ambientes variados, com diferentes tipos de atmosfera e também com a presença de outra bactéria, a Lactobacillus sake.
Com a atmosfera modificada e a Lactobacillus sake, o resultado observado foi uma significativa redução da quantidade de Listeria monocytogenes na amostra de linguiça. Segundo Alcina, “houve um efeito sinergístico”, ou seja, esses dois agentes somados acarretaram na inibição da Listeria monocytogenes, que, devido a essas condições, encontrou dificuldades para se multiplicar. Em alguns casos, houve até a redução da população da bactéria.
A pesquisa de Alcina também destaca a produção de uma bacteriocina produzida pela Lactobacillus sake. Essa bacteriocina age para inibir a multiplicação da Listeria monocytogenes. Segundo a pesquisadora, os estudos agora devem ser voltados para a purificação dessa bacteriocina, para que sua produção seja intensificada. Alcina também afirma que existe a possibilidade de se utilizar essa bacteriocina em escala industrial, desde que estudos viabilizem sua produção em larga escala e com menor custo. Outro fator que pode colaborar com o uso da bacteriocina da Lactobacillus sake em escala industrial é o fato das pesquisas comprovarem que não houve alteração do sabor da linguiça quando submetida a essas condições.
A Listeria monocytogenes, presente em uma série de alimentos, é eliminada se é dado o tratamento correto a eles. Para o preparo doméstico, é importante sempre ferver e até fritar os alimentos de origem animal; esses procedimentos impedem a multiplicação da Listeria. A pesquisadora também destaca que, pelo fato da Listeria monocytogenes ter facilidade de reprodução em baixas temperaturas, não é a refrigeração ou mesmo o congelamento dos alimentos que pode eliminar a presença da bactéria. Mas segundo Alcina, o principal controle deve ser feito nas indústrias alimentícias, nas quais pode ser multiplicada a bactéria. “É essencial”, diz Alcina, sobre o uso de boas práticas pelos fabricantes para se evitar a presença da Listeria monocytogenes nos alimentos.
A purificação da bacteriocina agora é o real alvo das pesquisas. Segundo Alcina, o único apoio com que contam para as pesquisas agora é o da Fapesp, fundação do governo do Estado de São Paulo de apoio à pesquisa.