São Paulo (AUN - USP) - Em época de racionamento, as pessoas começam a refletir mais sobre o gasto de energia. É pensando nisso que o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em parceria com as concessionárias de energia, o Inmetro, e o governo, desenvolveu um chuveiro capaz de controlar o consumo de energia no “horário de pico”. Quem sai ganhando são as concessionárias, e também o consumidor. Não, não será necessário tomar banho frio.
O “chuveiro inteligente” , como está sendo chamado, é equipado com um dispositivo eletrônico que permite as fornecedoras de energia controlarem a potência gasta pelo eletrodoméstico. A idéia é que durante o horário crítico de consumo de energia, que compreende em média das 17h às 21h, o aparelho passe a operar com 40 a 50% de sua potência, passando de aproximadamente 6500W e 7500W para 3500W. O consumidor será informado quando o método estiver em funcionamento. Para esquentar a água do banho, ele terá que regular a vazão pelo registro, ou seja, diminuir o volume escoado. Desta forma, ele estará consumindo menos água e menos energia elétrica.
O objetivo principal deste projeto é uniformizar o gasto de energia ao longo do dia, evitando escassez em momentos de uso simultâneo. As concessionárias são as principais beneficiadas. “Quanto mais atenuada a curva de ponta, mais elas poderão prorrogar o investimento na expansão da rede de distribuição”, diz Douglas Messina, técnico do Laboratório de Instalações Prediais do IPT e um dos colaboradores do projeto. Segundo ele, este é um dos principais problemas enfrentados pelas fornecedoras de energia durante o período de racionamento: atender à demanda de forma regular e ainda agregar novos clientes. A economia promovida pelo programa não resolveu esse problema.
O grupo envolvido no projeto estuda um meio de repassar esse benefício ao consumidor. Planeja-se estabelecer uma taxação diferenciada para quem utilizar esse tipo de serviço. Dentro do grupo B, que envolve residências e consumidores de baixa tensão, haverá a Tarifa Amarela, uma divisão da qual eles farão parte. Uma série de eletrodomésticos de baixo consumo serão selecionados e, caso forem utilizados fora do horário de alta demanda, as concessionárias fornecerão um desconto de 10 a 20% na conta do cliente. Caso contrário, será cobrada uma sobretaxa. Este tipo de sistema já é utilizado em países como a França e a Inglaterra com outros tipos de aparelhos. Hoje todos têm tarifa única.
Todo esse processo requer equipamento especial e é um dos motivos pelo qual ele ainda não foi implantado. Os medidores de energia, assim como as concessionárias devem possuir tecnologias compatíveis, os protocolos de comunicação. Pesquisas ainda estão sendo feitas e buscam subsídios e regras para isso. Outro impasse a ser resolvido é o fato de não haver leis que regulamentem tal tipo de fornecimento de energia. A Secretaria de Ciência Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, que patrocina o projeto, já tem um programa em discussão. Enquanto isso, os fabricantes de chuveiro desenvolvem o produto.
Para Messina, do IPT, este processo deve levar mais dois anos, pois depende de um decreto do governo. Ainda não se sabe se o chuveiro será um produto a ser vendido como mercadoria comum nas prateleiras, ou se fará parte do programa de adesão à Tarifa Amarela das concessionárias de energia.