São Paulo (AUN - USP) - O que “O Cavalo de Ferro” Lou Gehrig, célebre jogador de beisebol, e o físico Stephen Hawking têm em comum? Ambos foram diagnosticados com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença que apresenta cerca de seis mil novos casos por ano só no Brasil e provoca a morte da maior parte dos pacientes entre dois e cinco anos. É caracterizada pela falência dos neurônios motores no cérebro e medula espinhal, interferindo em sua capacidade de transmitir impulsos nervosos. Não possui causa definida ou cura, ainda que as pesquisas tenham aumentado nos últimos anos devido à descoberta da mutação da enzima superóxido dismutase, a SOD, em pacientes com casos de ELA na família.
Lívea Fujita Barbosa, pós-graduanda orientada pela professora Marisa Medeiros do Laboratório de Radicais Livres e Lesões em Biomoléculas do Instituto de Química (IQ) da USP, faz parte do grupo que estuda o mecanismo de ação da SOD mutante. A associação da SOD com o DNA e sua atividade peroxidásica (processo que danifica células saudáveis por meio da deterioração oxidativa), “uma coisa que não está clara na literatura”, são os grandes trunfos das pesquisas que realiza. “A mutação da enzima induz lesões à molécula de DNA, causando a morte do neurônio por necrose ou apoptose”, explica. A partir daí têm início os principais sintomas da doença: fraqueza muscular progressiva, atrofia dos músculos começando em um lado do corpo, tremores e diminuição da sensibilidade, entre outros.
No interior do núcleo celular, a SOD reage com peróxido de hidrogênio gerando espécies altamente oxidantes, o que leva a um desequilíbrio entre oxidantes e anti-oxidantes, provocando o estresse oxidativo da célula. No caso da ELA, essa excitação também se encontra associada ao excesso de glutamato, neurotrasmissor responsável pela difusão do impulso elétrico dos neurônios para os músculos. O acúmulo ocorre principalmente devido à insuficiência na recaptação do glutamato pelos astrócitos - células com função reguladora no sistema nervoso central – e resulta em constante estimulação do neurônio motor, o que acaba provocando sua morte.
Ainda que apenas alguns casos de ELA familiar estejam ligados à mutação da SOD, os pesquisadores acreditam que o processo de morte celular é comum em todos os pacientes. Assim sendo, o desenvolvimento de um marcador específico para sistema nervoso visível no sangue ou urina, pode revelar a presença do estresse oxidativo e gerar um diagnóstico precoce, o que pode aumentar a duração e a qualidade da sobre-vida dos pacientes. Lívea procura “utilizar a lesão do DNA como um biomarcador e ver se ela pode ser um indicativo de alguma anormalidade da doença”. Uma vez que os atuais exames são realizados a partir do fluido cérebro-espinhal - operações caras, invasivas e dolorosas – a descoberta de indicadores em exames de rotina (sangue e urina) configura-se como uma grande conquista, uma utopia de médicos e cientistas.