São Paulo (AUN - USP) - A pesquisadora Tanize do Espírito Santo Faulin, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, desenvolveu, em seu mestrado, três exames que quantificam a porção de colesterol ruim (LDL) eletronegativo no sangue de um paciente, os anticorpos que nos defendem dele e os imunocomplexos (conjuntos de anticorpos já ligados ao colesterol ruim). No mundo, só existe um exame semelhante a esse na Suécia, feito pela indústria Mercodia, e na Áustria, pela Biomedica Gruppe.
O resultado da pesquisa, se trazido para a vida prática, é bom para acompanhar pacientes com problemas cardiovasculares. Já existem exames que identificam o processo inflamatório da formação das placas de gordura e exames por imagem que mostram a obstrução dos vasos sangüíneos. A pesquisa de Tanize é capaz de identificar a proporção do problema e complementar esses exames, pois a LDL eletronegativa tem sido considerada um importante marcador bioquímico de risco para aterosclerose.
A aterosclerose é uma doença crônica multifatorial, caracterizada pelo espessamento de algumas áreas da parede arterial. As placas ou ateromas responsáveis por esse espessamento são compostas por gordura e vários tipos de células. A doença predispõe à trombose e pode causar AVC e infartos, dependendo da área afetada.
Sabe-se que a LDL (lipoproteína de baixa densidade) é a responsável pelo processo aterosclerótico – processo de formação de placas de gordura nos vasos sangüíneos. Mas em 1988 um grupo de pesquisadores italianos descobriu que o responsável por essa formação é o colesterol ruim eletronegativo (minimamente modificado). A diabete, o fumo e o stress são fatores que contribuem para a formação de radicais livres que modificam o mau colesterol.
Para quantificar essa LDL eletronegativa, a professora Dulcineia Saes Parra Abdalla, teve a idéia de desenvolver imunoensaios enzimáticos (na sigla em inglês, ELISA), o mesmo tipo de exame usado para detectar os anticorpos contra o vírus HIV. Um dos exames utiliza anticorpos para quantificar a LDL eletronegativa (o antígeno) e enzimas que indicam, por meio da mudança de cor, quanto do antígeno presente no sangue se ligou aos anticorpos. Quanto mais LDL eletronegativa, maiores as chances de se desenvolver problemas cardiovasculares.
Os outros dois ensaios utilizam-se do mesmo raciocínio para medir quanto de anticorpos anti-LDL eletronegativa e quanto de imunocomplexos está presente no sangue analisado. Ainda não se sabe se a quantidade ideal de anticorpos e imunocomplexos de LDL eletronegativa que o paciente deve ter. Isso porque o sistema imunológico, na tentativa de nos defender da LDL eletronegativa, acaba contribuindo para a formação de placas e o entupimento de vasos.
Depois de desenvolver esse kit diagnóstico para a quantificação da LDL eletronegativa, o próximo passo da pesquisa de Tanize, no doutorado, é trabalhar com outros métodos de quantificação, por exemplo, os biosensores.