São Paulo (AUN - USP) - O modelo argentino de financiamento cinematográfico é mais eficiente que o do Brasil, destacou Marcelo Lyra, jornalista e crítico de cinema, em debate após a exibição do filme nacional "Seo Chico, um retrato". A mostra do documentário aconteceu, recentemente, no auditório Paulo Emílio, na ECA-USP. Para o crítico, a lei brasileira de incentivo à cultura, Lei Rouanet, beneficia apenas os filmes comerciais, em detrimento da qualidade.
No modelo argentino, são cobrados 10% sobre o valor dos ingressos de cinema, sobre as locações e vendas de DVDs. O dinheiro arrecadado vai para o Instituto Nacional de Cinema Argentino. Esta instituição prepara os editais para os concursos que selecionarão, através dos roteiros, quais produções serão financiadas.
No Brasil, a Lei Rouanet permite que as empresas descontem até 3% do imposto de renda para investir em projetos culturais, como a produção de filmes. "É o diretor de marketing da empresa que vai decidir em qual filme ele vai colocar o dinheiro e isso é péssimo", esclarece Lyra, ressaltando que as empresas preferem investir em produções comerciais com atores famosos.
Lyra observa que os cineastas argentinos possuem os mesmos problemas que nós quanto ao lançamento dos filmes no circuito comercial. Tanto na Argentina, como no Brasil, as salas são dominadas pelo cinema americano. Porém, o crítico ressalta que, apesar de possuírem as mesmas dificuldades que os brasileiros, os argentinos conseguem fazer um cinema com mais qualidade que o nosso porque possuem uma seleção, dos filmes que serão financiados, melhor.
Marcelo Lyra diz que Beto Brant, considerado pelo jornalista um dos melhores diretores da retomada do cinema brasileiro, não consegue financiamentos, através da Lei Rouanet, para realizar suas produções. Seu filme "O Invasor" só foi realizado porque o diretor ganhou, em 2001, um concurso do governo para filmes com orçamento até R$ 1 milhão. "Com esse sistema de selecionar filmes por roteiro, você seleciona algo de qualidade, enquanto a lei de incentivo [Lei Rouant] favorece o filme comercial", afirma o crítico de cinema.