São Paulo (AUN - USP) - Os estudos antropológicos sobre o Islã aqui no Brasil começaram na década de 1990 e ainda não apresentam uma linha definida. Francirosy Campos Barbosa Ferreira, professora ministrante do Seminário Temático em Antropologia sobre o Islã – curso de extensão oferecido pelo Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) – fala da necessidade de divulgação dos trabalhos nesta área, que ainda são muito pouco conhecidos.
O objetivo deste curso é trazer a público as etnografias sobre comunidades islâmicas, bem como outros estudos; as análises são centradas na Antropologia, por ser a especialidade da professora. A etnografia é um método de descrição e observação da realidade que utiliza estudos de campo: o antropólogo vai até a comunidade estudada, toma contato com seus usos e costumes e produz sua tese a partir de suas experiências no local.
Após o 11 de setembro houve um aumento sensível das pesquisas e teses nesta área e também do interesse pelo tema. O atentado terrorista serviu para chamar a atenção das pessoas para o islamismo. Graças à constante presença do assunto na mídia, levantou-se uma reflexão em torno do que significa ser muçulmano – as práticas islâmicas e seus rituais – e que implicações isto traz. Para as pesquisas acadêmicas, o reflexo foi positivo.
Tendo como principais temas identidade, gênero, imagem, performance e conversão/reversão, as pesquisas discutidas no curso exploram as migrações da população islâmica, a questão da mulher inserida nesta sociedade, a relação do islamismo com as imagens e o preceito religioso de que todo homem nasce muçulmano, mas se afasta de Allah. Os elementos da cultura islâmica se mesclam com outras culturas devido aos deslocamentos da população muçulmana ao redor do mundo.
A mulher islâmica veste-se com roupas que não marcam o corpo e aceita o uso do véu, como obrigação religiosa consciente entre a mulher e Deus: a própria maneira feminina de se vestir no ocidente representa uma tentação para os homens, que incorrem em pecado graças à idéia que envolve o universo da sexualidade feminina. O culto de imagens é proibido e há restrições para o uso da fotografia: representar os profetas e elementos sagrados é algo fora de cogitação e as pessoas muçulmanas só podem ser fotografadas da cintura para cima. Uma das teses centrais desta religião é a reversão, o retorno a Deus: os homens que vivem fora do islamismo se afastam do saber religioso com o qual nasceram e precisam retornar a ele.
A professora Francirosy aponta esses temas como os principais em sua dissertação de Mestrado, em sua tese de Doutorado e também nos trabalhos de colegas analisados em seu curso. Ela conta que seu interesse pelo mundo islâmico nasceu do desejo de estudar fotografias que chamassem sua atenção: ao descobrir que os muçulmanos não aceitavam o culto de imagens, quis entender como eles lidavam com a representação de pessoas comuns.
Ainda não há professores especializados em Islamismo dentro do Departamento de Antropologia da USP; a geração de pesquisadores que se formou na década de 1990 será pioneira nesta área. A Antropologia procura construir a análise do objeto a partir da observação participante, aproximá-lo da realidade e dos nossos padrões culturais, desmistificando o Islamismo através da informação e difusão dos estudos.