São Paulo (AUN - USP) - “Eu devo dizer que, explicitamente, o jornal mandar você fazer as coisas direcionada ideológica ou politicamente, não manda. Também não vou dizer que as empresas sejam tão puras!” Foi essa a resposta de Jefferson Del Rios, ex-editor da Folha Ilustrada, sobre o fato dos veículos manipularem ou não informações.
Del Rios compareceu em entrevista coletiva realizada recentemente no Auditório Freitas Nobre da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP) para os estudantes de jornalismo. Ele respondeu a questões polêmicas, como a relacionada à manipulação dos fatos, mas fez, principalmente, uma análise sobre o jornalismo nos dias de hoje. Para o ex-editor da Ilustrada o jornalismo “é muito mais massacrante!”. Apesar do trabalho nas redações estar mais estressante, Del Rios considera que a atividade jornalística melhorou muito desde a década de 1960, época em que começou a trabalhar na Folha de S. Paulo, especialmente o jornalismo cultural.
Del Rios acredita que o principal motivo da melhora na cobertura dos eventos culturais é o fato dos repórteres estarem mais cultos, dominando com mais propriedade os assuntos aos quais se dedicam. Ele aponta a maior organização dos próprios veículos de comunicação, com editores mais qualificados, como outra razão para a evolução do jornalismo cultural. “Quando comecei, os chefes de reportagem eram trocados quase todos os dias”.
Na década de 1960, o caderno de cultura tinha um público composto basicamente por jovens que se interessavam pelos movimentos de vanguarda que estavam em andamento, como os grandes festivais de música, o Teatro Arena, o Teatro Oficina. Del Rios lembra que os novos artistas da música, como Chico Buarque e Caetano Veloso, tinham verdadeiros adoradores que chegavam ao extremo de brigar para defender as canções dos ídolos. “Era uma espécie de FlaFlu”. Del Rios destacou que a grande interação entre músicos contribuiu para a efervescência cultural daquele período. Ele lembra que a junção de músicos eruditos, como Júilo Medaglia e Rogério Duprat, com Tom Zé, Gilberto Gil e outros nomes importantes da música foram essenciais para a criação da Tropicália.
O público que acompanhava o noticiário cultural na década de 1960 ajudou a conceber o formato dos cadernos dedicados à cultura e à arte. Boa parte das pessoas que liam sobre cultura naquela época continua acompanhando o que é publicado nos cadernos de cultura e variedades dos grandes jornais diários, como a Folha Ilustrada e o Caderno 2. Entretanto, parte do público exige uma cobertura mais profunda e ampla desse tema. Por causa dessa demanda, foram criados suplementos como o Mais! (Folha de S. Paulo) e o Aliás (Estado de S. Paulo).