São Paulo (AUN - USP) - “A internet modificou o consumo do jornalismo.” Essa é a opinião de Marcos Augusto Gonçalves, atual editor da Folha Ilustrada (Folha de S. Paulo). Entretanto, os veículos de comunicação não conseguiram se adaptar, de forma total, às novidades tecnológicas, o que dificulta a concepção de um formato para o jornalismo on line. A maioria dos meios de comunicação produz um pequeno conteúdo para seus sites na internet e restringe o acesso daquilo que é publicado em suas versões impressas. Eles encaram a internet mais como uma inimiga do que como uma aliada para complementar e ampliar os serviços que prestam. Isso, no ponto de vista de Gonçalves, consiste num erro. Quem cultiva o hábito de ler jornal, não o trocará pelo que é veiculado na internet. A grande diferença entre a internet e os meios impressos é o faturamento. As versões on line dos grandes jornais possuem um lucro muito menor.
Gonçalves compara as transformações pelas quais o jornalismo passa atualmente com aquelas provocadas pelo advento da televisão. Com a TV, a imagem tornou-se essencial, o que afetou a produção de jornais. Mais fortemente a partir da década de 1980, os veículos impressos começaram a dar um valor maior para as fotografias e ilustrações bem como para os aspectos gráficos (tabelas, infográficos, entre outros). Tais tendências continuam até os dias de hoje.
No que tange a produção dos textos, o editor da Folha Ilustrada aponta duas características básicas: linguagem mais dinâmica e textos cada vez menores. Gonçalves considera que as colunas são mais bem feitas e ocupam lugares mais nobres do que as reportagens. Um dos motivos para que as reportagens apresentem textos mais fracos se deve à inexperiência dos jornalistas. As redações têm cada vez mais jornalistas recém-formados devido ao baixo custo que eles representam. Em geral, quando os jornalistas começam a adquirir experiência e credibilidade, os jornais os demitem para diminuir os custos. Isso explica as carreiras curtas que os profissionais fazem nos veículos. Essa “cultura da demissão” tem, pelo menos, um aspecto positivo: ela permite que se encontre gente interessante que pode suprir deficiências dos grandes veículos. Ainda sobre a instabilidade dos jornalistas nos meios de comunicação, Gonçalves faz uma última consideração: “É saudável a rotatividade entre diferentes editorias”.