São Paulo (AUN - USP) - O Laboratório de Química de Produtos Naturais do Instituto de Química da USP identificou na planta ataúba (Guarea macrophylla ssp. tuberculata) uma substância capaz de repelir insetos.
Durante a floração, quando a planta precisa atrair insetos polinizadores para realizar sua reprodução, a substância é encontrada em menores quantidades. Sua produção é maior quando a planta está frutificada, para evitar que os insetos ataquem os frutos. Isso é importante porque aumenta as chances de dispersão das sementes pelos animais que se alimentam deles. Como a substância é produzida pela própria ataúba, não prejudica o fruto nem deve ser tóxica para os animais.
O uso de “substâncias naturais” com propriedades úteis para o homem está em alta, como mostra a procura pelos “vegetais orgânicos”, cultivados sem o uso de agrotóxicos. Além disso, os últimos meses de verão foram marcados por pragas urbanas, como formigas, e pela epidemia de dengue, aumentando o interesse em pesquisas que ajudem a controlar e combater esses agentes.
O trabalho da química nesse campo está crescendo. No passado, era voltado apenas à identificação das substâncias encontradas nas plantas, desenvolvendo a Quimiotaxonomia (classificação de plantas de acordo com parâmetros químicos, e não padrões botânicos), mas a partir da década de 80, o enfoque passou a ser na ecologia, procurando a atividade biológica da substância. Ou seja, em vez de apenas analisar a planta quimicamente, os laboratórios hoje testam suas propriedades para então identificar as substâncias responsáveis por essas atividades.
“A planta produz as substâncias por algum motivo; produz para ela usar, e não para a gente. E como ela está parada, seu único meio de proteção é a química”, explica o aluno de doutorado de química João Henrique Ghilardi Lago. Ele foi responsável pala análise da variação química da ataúba, estudando as quantidades das substâncias produzidas pela planta ao longo de um ano.
A tese será defendida em abril, e os resultados desenvolvidos no laboratório serão publicados na literatura especializada. Serão então estudadas suas aplicações como fitoterápico.
Lago pretende continuar pesquisando outras plantas, e destaca o potencial biológico das matas do país: “Nem 1% da flora brasileira foi estudada em termos de química”. O Laboratório de Química de Produtos Naturais caracteriza compostos químicos e faz triagem biológica em plantas da Mata Atlântica e do Cerrado.