São Paulo (AUN - USP) - A pesquisadora Marly Babinski, do Instituto de Geociências da USP (IGc), trabalha com isotópos de chumbo radiogênicos para identificar a presença de fontes poluentes no meio-ambiente. Isso possibilita traçar as fontes de emissão de chumbo para a atmosfera e águas subterrâneas. Chumbo é um metal pesado que, se presente em altas concentrações, pode fazer mal à saúde. Foi constatado que a atmosfera da Cidade Universitária apresenta teores significativos de chumbo que variam de acordo com o período do dia, as estações do ano e as condições meteorológicas. O elemento é liberado, especialmente em São Paulo, pela queima de combustíveis fósseis e emissões industriais.
Babinski explica que a razão isotópica funciona como um DNA dos depósitos minerais de chumbo. Ela é uma característica particular desses depósitos e possibilita a determinação da natureza, da composição e da proveniência das emissões de chumbo. Para isso são utilizados espectrômetros de massa termo-iônicos de altíssima sensibilidade. Com isso, é possível traçar a origem dos poluentes presentes na atmosfera da Cidade Universitária.
A professora coordena uma pesquisa que estuda composição isotópica de chumbo dos aerossóis presentes na atmosfera. O projeto que teve início em 1999, atualmente é patrocinado pela Fapesp e desenvolvido pela pós-doutoranda Simone Maria Costa Lima Gioia.
Gioia estuda a composição e morfologia dos aerossóis da cidade de São Paulo, a fim de traçar as possíveis fontes de emissão naturais e antrópicas. A pesquisa envolve coletas sazonais – verão e inverno – da atmosfera da Cidade Universitária, Cubatão (Vila Parisi), São Lourenço e Juquitiba. A área remota de Juquitiba é a mais isenta possível de poluentes por isso é tomada como referência para as demais localidades estudadas. As coletas são feitas em períodos de 12 horas e possibilitam a análise da dispersão de seus poluentes, por meio da avaliação das trajetórias de massa de ar.
Os resultados constataram que o ar da Cidade Universitária tem concentrações consideráveis de chumbo e que nos períodos noturnos a concentração aumenta. Gioia diz que isso ocorre devido às condições geográficas da cidade de São Paulo, que desfavorece a dispersão dos poluentes. O acúmulo de partículas é privilegiado no período noturno, o que tem forte associação com o aparecimento de doenças do sistema respiratório. As emissões de chumbo e seu acúmulo são agravados durante o inverno, quando as condições meteorológicas são mais favoráveis ao acúmulo de poluentes. Durante o dia o chumbo se dispersa na atmosfera, diminuindo sua disponibilização para o ser humano.
Na cidade industrial de Vila Parisi, ao contrário, as concentrações de chumbo são mais elevadas no período diurno, o que pode ser associado ao aumento do tráfego de veículos de carga que resuspendem resíduos das fábricas de fertilizante, que estão presentes nas vias próximas à estação de coleta.
A utilização de isótopos de chumbo para a medição dos poluentes atmosféricos voltada para os estudos ambientais, ainda é muito recente no Brasil. Estudos como esse têm sido desenvolvidos apenas na USP e na Universidade de Brasília.