ISSN 2359-5191

19/05/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 39 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Brecht e o teatro que não quer catarse

São Paulo (AUN - USP) - Suzana Campos de Albuquerque Mello, em sua comunicação no II Seminário de Literaturas Estrangeiras em Diálogo "Conflito e Criação", falou sobre seu trabalho de Mestrado, o qual engloba a "Turbulência política na República de Weimar e criação literária em B. Brecht". Ela apresentou ao público seu trabalho a respeito do teatrólogo e poeta alemão Bertolt Brecht e de seu Teatro Épico, o teatro que não quer catarse.

Brecht é considerado um dos principais pensadores do teatro e da arte no século XX. Sua obra propõe a arte como instrumento de transformação social, convidando o público a agir de modo a transformar sua história. Procurou desenvolver um teatro que despertasse as pessoas para as causas que levam à desumanização da sociedade, desmascarando os mecanismos de exploração social, violência, desigualdade e injustiça.

Seus textos foram escritos na primeira metade do século XX. Ele acompanhou duas guerras mundiais, viu a ascensão socialista ao poder com a Revolução Russa de 1917 e foi perseguido pelo regime nazista, tendo trabalhos queimados em praça pública e exilando-se de seu país. Durante seu exílio dedica-se, sobretudo, a combater o nazismo e a figura de Hitler. Com a proximidade da guerra passa também a escrever peças que transcendem a crítica ao regime fascista alemão.

Segundo Fernando Peixoto, "Brecht recusa o espetáculo como hipnose ou anestesia: o espectador deve conservar-se intelectualmente ativo, capaz de assumir diante do que lhe é mostrado a única atitude cientificamente correta - a postura crítica". Neste contexto entram peças como "A Exceção e a Regra", publicada em 1930, em que o espectador e os atores participam ativamente da proposta de conhecimento do texto: esta é a peça didática criada por Brecht.

Em sua comunicação, Suzana falou de como esta peça foi usada no Brasil, durante a ditadura militar, como arma de resistências por parte de grupos de teatro formados principalmente por estudantes. A trama de "A Exceção e a Regra" conta a saga de um homem de negócios sem escrúpulos que empreende uma viagem através do deserto com dois empregados para conseguir fechar uma concessão de exploração de petróleo. Ele não mede esforços para alcançar seu objetivo financeiro, mesmo que para isto tenha que passar por cima da condição humana de seus subordinados.

Ao longo da estória, Brecht insere suas criticas à sociedade capitalista que sempre favorece os mais poderosos em detrimento dos mais humildes. A peça mostra como os mecanismos de exploração do homem pelo homem são considerados "normais", numa crítica feroz sobre como as regras sociais são criadas, impostas e aceitas.

Como em toda a sua obra, os conflitos desta peça são as contradições do capitalismo expostas no embate entre capital e trabalho. Nas peças do chamado Teatro Épico, Brecht procura resgatar o diálogo com o público, o que normalmente se denomina "quebra da quarta parede". Esse teatro busca conscientizar o público através de um diálogo com a obra poética, na tentativa de criar uma postura crítica da sociedade frente aos acontecimentos de sua época.

Brecht foi um teatrólogo da educação: suas peças foram sempre uma tentativa de levar as pessoas a refletirem sobre suas vidas e não o contrario. Ele queria gerar questionamentos em seu público e não a evasão da vida proposta pelo teatro aristotélico. Brecht se apropriou de elementos como o teatro popular europeu – que empregava o humor e a sátira para promover a moralização da sociedade – e direcionou-os para um engajamento político.

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