São Paulo (AUN - USP) - A Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) se prepara para oferecer já no vestibular de 2010 o curso de licenciatura em Educomunicação. O processo se encontra na reitoria da universidade para a análise final. Um dos professores que desenhou o projeto é Ismar de Oliveira Soares, que ganhou em novembro de 2007 o título de “Educador do Ano”, oferecido pelo Prêmio Educare.
O professor Ismar conta que a Educomunicação surgiu “a partir de uma prática de cidadania, e não a partir de grandes filósofos ou teóricos”. Já existiam a comunicação e a educação “alternativas”, interessadas por questões sociais e a Educomunicação surgiu numa 3ª via não só da comunicação, nem só da educação, mas na interface delas. Essa terceira via era formada por pessoas que não vinham nem de um campo tradicional, nem de outro, mas se interessavam pelas mudanças sociais, “eram grupos que estavam lutando pela democracia, contra as ditaduras, eram pessoas preocupadas com as minorias, com a questão indígena”, conta. “Definimos o novo campo como um conjunto de ações que se volta para a criação e o fortalecimento de ecossistemas comunicativos, abertos e democráticos, em espaços educativos”, sintetiza o professor.
A Educomunicação vem traduzir esse movimento que ganhou estrutura e se difundiu, constituindo-se, hoje, em procedimento rotineiro de numerosas organizações não governamentais. Está presente na própria mídia, em rádios e televisões educativas, e que, agora, chega também à escola, como foi o caso do projeto educom.rádio, na prefeitura de São Paulo. O professor Ismar estuda a Educomunicação desde o começo dos anos 70, mas conta que na Europa e nos Estados Unidos ela já era estudada sob outras denominações como media education (educação midiática).
O Departamento de Comunicações e Artes da ECA tentou implantar o curso de Educomunicação pela primeira vez em 1994, quando houve uma reforma curricular. Porém, o professor conta que, naquela época foi impossível fazê-lo, a unidade passava por uma grande reforma para fazer currículos autônomos para cada curso – cerca de 50% das disciplinas eram iguais em todos eles – e um novo curso não cabia ser pensado naquele momento.
Depois da reforma de 94, porém, a Educomunicação foi ganhando cada vez mais terreno até alcançar reconhecimento acadêmico. Criou-se uma linha de pesquisa na pós-graduação, que permitiu que, em 10 anos, fossem defendidas cerca de 80 teses sobre o tema, ampliando-se, por outro lado, o diálogo com a sociedade, mediante a formação de cerca de 20 mil pessoas através de cursos de extensão, num trabalho que envolveu, sobretudo, o Núcleo de Comunicação e Educação (NCE/USP).
Em 2005, finalmente, o projeto de graduação em Educomunicação voltou a ser elaborado, num diálogo com a Faculdade de Educação, tendo sido aprovado, em 2007, pela congregação da ECA. Aguarda, no momento, análise de várias instâncias da USP. Segundo o professor Ismar, a reitora, Suely Vilela, garantiu seu empenho para que o curso saia e espera-se que ele possa ser oferecido no vestibular de 2010.
A Licenciatura em Educomunicação formará um profissional em condições de atender tanto o que a Lei de Diretrizes de Bases sugere em termos de aproximação entre o ensino e a comunicação, no setor da educação formal, quanto de prestar serviços à indústria cultural e ao terceiro setor interessados em promover ações e programas na interface entre a comunicação, as tecnologias da informação e a educação. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, já procura por este profissional, tendo aberto edital para sua contratação, ainda neste semestre.
O professor Ismar orgulha-se do projeto: “precisamos de mais de 14 anos para legitimar nossa proposta, mas agora, ela finalmente está sendo reconhecida. Estamos dialogando com toda a sociedade, de empresas privadas à ONGs, passando pela sociedade civil e pela educação formal e à distância, temos muitos aliados”.