São Paulo (AUN - USP) - A literatura de Javier Cercas cria mundos ficcionais que criticam, entre outros pontos, a guerra civil espanhola e a sociedade de massas. A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Silvia Cárcamo, em palestra no II Seminário de Literaturas Estrangeiras em Diálogo "Conflito e Criação" (FFLCH/USP), falou sobre a obra e as peculiaridades do autor espanhol.
Em sua obra, Cercas cria personagens como escritores, intelectuais e literatos, usando-os para levantar reflexões que versam sobre a complexidade contemporânea da escrita, que é mostrada como a única maneira de formar o caráter humano.
Autor contemporâneo, seus escritos misturam o gênero policial com os ensaios críticos e seus personagens questionam os mecanismos de articulação da sociedade a todo tempo. Seu primeiro romance de sucesso foi Soldados de Salamina (2001), que conta de maneira original a história de um teórico fascista que escapa miraculosamente de um fuzilamento às mãos dos republicanos.
Cercas constrói uma teoria que atrela o destino de uma pessoa a seu caráter, e aproveita para apresentar novas visões sobre a guerra civil espanhola. No ano passado lançou o romance A Velocidade da Luz, que traz ele mesmo como personagem e busca refletir sobre outra guerra: a do Vietnã. Contracenando com um veterano do conflito que presenciou momentos terríveis no Sudeste Asiático, procura debater os efeitos do conflito na sociedade como um todo.
Considerado um autor pós-moderno, Cercas se caracteriza por discutir as relações da humanidade com seus conflitos e contradições. Em sua obra, apresenta atores complexos que agradam à sociedade de consumo ao mesmo tempo em que a criticam. O mundo ficcional deste espanhol pretende melhorar o mundo real com figuras dramáticas palpáveis.