ISSN 2359-5191

03/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 45 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Lei Cidade Limpa “empobrece” bairro da Liberdade

São Paulo (AUN - USP) - A Lei Cidade Limpa, que regulamenta a propaganda visual na cidade de São Paulo, descaracteriza o comércio típico da Liberdade. Quem afirma é Camila Rodrigues, pesquisadora que integra a equipe da Universidade de São Paulo que estuda a formação e transformação do bairro. Tradicional reduto da comunidade dos imigrantes japoneses (nikkeis), ele hoje também abriga outras culturas orientais.

A lei obriga os comerciantes a retirar a maior parte dos ideogramas da fachada, deixando apenas o nome da loja. Segundo Camila, isso dificulta a identificação do tipo específico da escrita, além de se distanciar da realidade desse tipo de propagando nos seus países de origem. Mas não são apenas as fachadas das lojas que recebem uma “maquiagem” no bairro da Liberdade.A pesquisa identificou que os festivais tradicionais, como o do ano novo chinês, também são modificados em relação às celebrações de seus países de origem, visando atrair um número maior de visitantes.

A Liberdade é hoje uma oportunidade comercial para os imigrantes orientais, sejam eles chineses, que chegaram sobretudo a partir da década de 80, ou os poucos japoneses que ainda mantém seu negócio na região. Estes começaram a se fixar no bairro ainda nos primeiros anos do processo de imigração, atraídos pelo preço baixo do aluguel dos porões das casas da rua Conde de Sarzedas, além da localização central da Liberdade. Durante a 2ª Guerra Mundial, na qual o Brasil esteve do lado oposto ao do Japão, a já numerosa colônia residente no bairro foi expulsa pelo governo, que pretendia evitar a formação de redutos étnicos de inimigos. Com o fim da guerra, o bairro acabou voltando-se para o comércio. O grande marco foi o Cine Niterói, inaugurado em 1953, que passava filmes japoneses e se tornou um centro de entretenimento da colônia. A cultura, os restaurantes, e o comércio japonês logo atrairia outros visitantes para o bairro.

Com o passar dos anos, os japoneses foram passando o comando do comércio típico para outros imigrantes orientais. Michelle Santos, uma das pesquisadoras, ficou surpresa ao descobrir que quase todos as lojas típicas japonesas estão hoje na mão de chineses. Estes chegaram mais recentemente à Liberdade, depois que ela já estava consolidada como o bairro “japonês”, e aproveitaram para lucrar com o comércio estabelecido, sem modificá-lo. Para que os clientes sejam atendidos por pessoas que conheçam a cultura do Japão e, eventualmente, até falem a língua, eles contratam descendentes de japoneses. Michelle diz que as novas gerações da comunidade nikkei já são mais apegadas ao Brasil do que ao Japão, e, portanto, não se preocupam tanto em preservar as tradições. Assim, restam apenas alguns poucos comerciantes japoneses, quase todos idosos, que mantêm seu negócio no bairro.

O estudo sobre a Liberdade, que inclui alunos das graduações em Letras, Geografia e Ciências Sociais, é ligado às comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil. Os resultados devem ser publicados em um livro ainda no mês de agosto deste ano, sob a coordenação do sociólogo Koichi Mori.

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