São Paulo (AUN - USP) - A reciclagem de papel é vista, quase sempre, como uma prática totalmente inócua e até benéfica ao meio ambiente, em oposição aos impactos provocados pelo processo de fabricação de papel virgem. Porém, este senso comum está equivocado, como explica Maria Luiza D’Almeida, responsável pelo Laboratório de Papel e Celulose do IPT/USP. “Não podemos dizer que um tipo de papel é bom e o outro é ruim. Ambos resultam de processos industriais e geram carga poluente”.
Segundo a pesquisadora, as vantagens e desvantagens de cada material devem ser analisadas a partir de dois fatores: a finalidade para o qual ele será destinado e sua cadeia produtiva. Na fabricação de embalagens e produtos para fins sanitários, as exigências quanto à qualidade do papel são mínimas e, assim, o processo de reaproveitamento é simples e viável. Já para outros usos, é necessário um material de alta qualidade e durabilidade, como é o caso de documentos importantes que devem ser guardados por muito tempo. Neste caso, a opção pela reciclagem demandaria uma técnica custosa e até agressiva ao meio ambiente, devido aos poluentes resultantes do branqueamento das fibras de celulose.
Dessa forma, esta prática comumente incentivada não é ecologicamente tão correta quanto a maioria das pessoas pode acreditar. Como qualquer outra atividade industrial, ela produz dejetos contaminantes. Maria Luiza, entretanto, deixa claro que as empresas que, hoje, produzem papel reciclado seguem as normas estabelecidas pelo ISO 14000, quanto à gestão ambiental, fazendo com que possíveis impactos à natureza sejam minimizados.
Para a pesquisadora, o mais importante é ressaltar que generalizações maniqueístas são falaciosas, apesar da larga campanha ecológica alardeada por diversos setores da sociedade. A maioria das fábricas de papel, atualmente, possui políticas de reflorestamento, o que desmontaria o discurso daqueles que condenam a produção e o uso de papel virgem. Cada caso deve, portanto, ser estudado separadamente, para decidir qual tipo de papel é o mais adequado. A reciclagem é uma opção, mas nem sempre é a mais correta.