São Paulo (AUN - USP) - Professor da Universidade de Houston, pianista e musicólogo, Howard Pollack esteve presente no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) para falar sobre (e tocar) George Gershwin. Este foi um dos maiores músicos dos Estados Unidos de todos os tempos e é considerado o clássico americano. No mesmo dia, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) apresentava, mais à noite, a ópera “Porgy and Bess” e o concerto para piano e orquestra “Rapsódia em Blue”, de Gershwin. Esta última foi a composição que tornou o pianista famoso.
Pollack é autor de uma bigrafia de Gershwin que o New York Times classificou como definitiva. Segundo ele, aquele pianista do início do século XX é um compositor único na história da música por transitar bem entre a música clássica e a popular. “Para ele não havia contradição”, afirma. Aos 17 anos, o músico largou a escola para trabalhar tocando música popular em bares e casas de show. Ao mesmo tempo, nunca deixou de estudar teoria. Suas canções comerciais – ele escreveu diversos musicais para a Broadway e trilhas para filmes de Hollywood – tinha a qualidade da música erudita e as clássicas alcançavam o reconhecimento das populares.
Gershwin foi influenciado por três estilos: jazz, blues e as danças hispânicas. O jazz era mais especificamente algo entre o jazz e o “ragtime”, conhecido como “Harlem stride” (o grande passo de Harlem, região de Nova Iorque). Ele marca a música do compositor pela energia rítmica. O blues, associadas aos negros de classe baixa, traz traços mais triste, porém irônicos. Por seu poder de agregar vários estilos à música clássica, no lançamento de Rapsódia em blue, a música interpretada pela Osesp, e, 1924, ele reuniu interessados na música erudita e popular numa apresentação de uma banda de jazz.
Pollack, muito à vontade, ironizou ao dizer que o arranjo original feito para a introdução em clarinete só podia ser executado por um instrumentista excepcional. O daquele concerto podia, mas o resultado na Osesp era incerto. Como musicólogo também manteve o pé atrás com a apresentação da orquestra. Para ele, uma música feita para ser tocada por uma banda de jazz não pode ter outro destino.
O fato é que Rapsódia em blue teve tanto sucesso que rendeu a gravação de mais de um milhão de cópias e enriqueceu Gershwin. Pollack contou ainda um encontro que o jazzista teve com Stravinsky. Ao pedir que este lhe ensinasse, Stravinsky perguntou o quanto ganhava por ano. Com a resposta de que seriam cerca de R$ 8 milhões em valores de hoje, o grande músico brincou dizendo que nesse caso ele que deveria aprender com Gershwin.
Pollack criticou ainda as interpretações até do renomado músico americano Leonard Bernstein nas músicas de Gershwin. Para o professor de Houston, ele era muito dramático, com uma levada de blues até quando não era essa a intenção do compositor. Isso, para ele torna a múscia “o mais vulgar possível”. O palestrante alternava, com muito bom humor, a aula de história e teoria musical com músicas tocadas do jeito que devem ser. Afinal, ele é um musicólogo.