São Paulo (AUN - USP) - A professora Ursula Maria Lanfer Marquez, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP trabalha para ajudar a criar uma tabela de alimentos para os pacientes com fenilcetonúria. O grupo do qual faz parte foi reunido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para colocar em prática a decisão do Ministério Público de divulgar o teor de fenilalanina dos alimentos.
A fenilalanina é um aminoácido que está presente nas proteínas (toda proteína tem de 3% a 6% de fenilalanina em sua estrutura). A fenilcetonúria é uma doença que consiste na falta da enzima capaz de transformar a fenilalanina em um outro aminoácido chamado tirosina, responsável, entre outras funções, pela formação do pigmento da pele e dos cabelos. O acúmulo de fenilalanina, que não foi metabolizada, pode causar atraso mental. Essa doença afeta um em cada 10 000 recém-nascidos e é detectada com o teste do pezinho.
A criança que apresenta essa doença transmitida hereditariamente pode consumir em torno de 200 mg a 500 mg de fenilalanina por dia. Como a quantidade que pode ser ingerida diariamente é muito pequena, o valor especificado na embalagem dos produtos não pode conter grande margem de erro. Para que a medição seja feita de maneira rigorosa e as atualizações sejam constantes – a cada mudança na formulação, entrada e saída de produtos do mercado – a Anvisa reuniu pesquisadores de universidades, nutricionistas e laboratórios para elaborar uma tabela que aborde todos os alimentos, tanto os processados quanto os in natura.
A professora Ursula já pesquisa o assunto há 10 anos e seus estudos, além de gerarem artigos e teses, culminaram na elaboração de uma tabela de composição de alimentos disponível no site da FCF-USP. Os dados de 276 produtos serão aproveitados na nova tabela. A principal dificuldade da pesquisadora é manter a sua tabela atualizada; já a nova tabela contará com mais produtos e mais atualizações. A Associação Brasileira de Indústrias da Alimentação (ABIA) realizará a análise de seus produtos supervisionada pelo grupo de pesquisa formado pela Anvisa.
A fenilcetonúria não tem cura e seu único tratamento é o controle da alimentação. A falta de proteínas causa inúmeros problemas no organismo e, para evitá-los, os pacientes consomem um pó de aminoácidos sem a fenilalanina. A prioridade do grupo de Ursula é estudar os alimentos que têm pouca proteína em sua composição, como algumas verduras e frutas e alimentos processados com até 5% de proteína. Isso porque os pacientes já sabem o que não devem comer; precisam saber é o que podem comer e em que quantidades diárias.
Dentre as maneiras de quantificar a fenilalanina dos alimentos, o grupo reunido pela Anvisa estabeleceu os métodos de análise de aminoácidos com equipamentos sofisticados e o de estimativa, levando em consideração a quantidade de proteínas. É possível saber, com a contagem de nitrogênio, a quantidade de proteína presente no alimento. A partir disso, considera-se que toda a proteína tem de 3% a 6% de fenilalanina.
A tabela de composição de alimentos para fenilcetonúricos formulada pela professora Ursula está disponível no site: www.fcf.usp.br/fenilcetonuricos