ISSN 2359-5191

02/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 66 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Professor explica reescritura como forma de criação musical

São Paulo (AUN - USP) - A reescritura é, de modo geral, pegar um trecho de uma música, que pode ser uma obra recente ou não, de autoria própria ou criada por outro compositor, ou até mesmo pertencente à outra cultura, e copiá-la de maneira irregular, arrastando as notas para lugares errados, esticando algumas passagens, dentre outros procedimentos. Esse é o modo como o professor do Departamento de Música da Unicamp, Silvio Ferraz, entende a reescritura musical. A reescritura seria a retomada de uma amostra musical qualquer submetida a uma escuta atual, explicou o professor em palestra ministrada, recentemente, na Escola de Comunicação e Artes da USP – ECA/USP.

A retomada do coral "Es Ist Genug", de Bach, realizada pelo compositor austríaco Berg, em seu “Concerto para violino”, no século XX, foi usada pelo professor para exemplificar a reescritura. Ele esclarece que neste caso não temos uma simples citação ou orquestração, mas uma transformação radical em que a obra de Bach se vê mesclada a outros processos harmônicos.

A reescritura não aconteceu apenas no século XX. No Barroco, período compreendido entre 1580 e 1756, a reescritura foi muito praticada, explicou Ferraz. Como exemplo, temos as transcrições para teclados que Bach realiza das obras de Alessandro Marcello, Antonio Vivaldi e outros compositores da Itália do século XVII e XVIII. Ferraz citou, também, “Requiem” do compositor austríaco Mozart, o qual vem atravessado por obras de Haendel, Pergolesi e Palestrina.

É, principalmente, de Berio, compositor italiano do século XX, que Ferraz diz resgatar a noção de reescritura. O professor explica que o compositor italiano praticou esta forma de criação musical em muitas de suas próprias obras e em músicas do repertório de culturas tradicionais.

Em suas primeiras tentativas de praticar reescritura, o professor escreveu “Capela do Rosário. Prados. MG” e a peça orquestral “Extemporânea”. Para fazê-las, Ferraz utilizou como campo de reescritura a seqüência de acordes da pequena peça coral “Bejulans”, do ciclo de “Visitação dos passos” de autoria de Manoel Dias de Oliveira.

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