São Paulo (AUN - USP) - Estudos que demonstram que dietas de restrição calórica retardam o envelhecimento já são antigos no meio científico. A primeira descoberta importante se deu em 1935, com o grupo Clive McCay, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram que ratos viviam mais tempo quando mantidos com uma dieta de poucas calorias.
No entanto, pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP demonstraram que não é preciso restringir a quantidade de alimentos para obter os efeitos da dieta pouco calórica. A partir de experimentos em camundongos tratados com o dinitrofenol (DNP), uma droga que diminui o aproveitamento energético das mitocôndrias, verificaram que esses animais tiveram aumento de 10% da longevidade, além da redução de síndromes metabólicas ligadas à obesidade, como diabetes tipo dois e hipertensão arterial, além da tendência a desenvolver tumores. A mitocôndria é uma organela celular que, a partir do oxigênio da respiração, processa e converte a energia dos alimentos em energia química, essencial para a atividade das células.
O dinitrofenol é um agente desacoplador mitocondrial, ou seja, faz com que a mitocôndria diminua a síntese de energia. Dessa forma, a droga reduz a quantidade de gorduras no corpo. Nos anos 30, o DNP era utilizado como medicação para redução de peso, mas devido ao emprego de doses tóxicas que levaram a algumas mortes nos Estados Unidos, foi proibido.
A dose utilizada para a pesquisa é pelo menos cem vezes menos do que a tóxica, afirma Alicia Kowaltowski, coordenadora do projeto e professora do Departamento de Bioquímica da USP. Segundo ela, a droga é uma “ferramenta interessante”, pois prova que a manipulação mitocondrial é eficaz para retardar o envelhecimento e o ganho de peso.
“A mitocôndria funciona como uma bateria”, diz Alicia. Ela gera um gradiente de prótons, ou seja, fica mais positiva do lado de fora que no interior. O dinitrofenol altera esse gradiente, diminuindo o potencial elétrico da mitocôndria, que, por sua vez, passa a gerar menos energia.
A estratégia de desacoplamento também provoca outras conseqüências no metabolismo, como a diminuição da glicose no sangue, responsável pela diabetes tipo dois, dos níveis de lipídeos e da taxa de insulina. Segundo Alicia, a manipulação mitocondrial ainda se mostrou eficiente para diminuir danos com lesões provocadas por radicais livres, uma vez que a produção de energia libera esses radicais no organismo.
Como o dinitrofenol é proibido, os pesquisadores procuram outras drogas para retardar o envelhecimento. Uma vez que foi provado que a ingestão de vinho provoca aumento da longevidade, uma possibilidade estudada por outros grupos de pesquisa é o uso do resveratrol, um derivado do vinho. Outra idéia é ativar vias naturais de desacoplamento das mitocôndrias, como os canais para potássio e proteínas desacopladoras.
Alicia conta que o próximo passo é descobrir quais as outras mudanças causadas no metabolismo e que proteínas são ativadas no processo. “Entender o procedimento é necessário para que possamos intervir em alguma etapa”, diz. Testes em seres humanos ainda não estão sendo cogitados pela pesquisadora. Além de o dinitrofenol ser proibido, ainda precisam ser feitos estudos com outros animais, como os parentes mais próximos, os macacos. Nesse sentido, pesquisas com primatas submetidos a restrições calóricas estão sendo conduzidas dentro do National Institutes on Health, em Baltimore, Maryland.