São Paulo (AUN - USP) - Todos os anos, aumenta o número de crianças atendidas pelo Hospital Universitário da USP – HU durante o inverno. Normalmente, as maiores taxas de atendimento concentram-se nos meses de maio e junho, mas em 2008, segundo o pediatra João Lotufo, o pico aconteceu nos meses de março e abril. O pronto-socorro pediátrico do HU, do qual Lotufo é chefe, atende cerca de cinco mil crianças por mês durante o verão; durante os meses de inverno, este número sobe para cerca de nove mil crianças por mês.
A maior incidência de doenças respiratórias nestes meses do ano se deve, principalmente, a permanência das pessoas por mais tempo em lugares fechados, que propiciam a transmissão de vírus. Além disso, os agentes infecciosos também se proliferam com mais facilidade em temperaturas baixas. Lotufo apontou a poluição como fator agravante deste caso. “Tem que lembrar que existe a poluição indoor (em ambientes fechados), causada pelo cigarro e a poluição outdoor (em lugares abertos), cujos produtores são principalmente os automóveis”, afirmou o médico.
As crianças e os idosos são os mais afetados porque ou têm seu sistema imunológico ainda em formação ou ele já está muito debilitado. No caso das crianças, disse o pediatra, que também é pneumologista, o pulmão é muito pequeno e qualquer inflamação ou produção de catarro já entope as vias aéreas, o que ocasiona uma falta de ar muito grande.
O sistema imunológico em desenvolvimento, associado à necessidade de ir para a creche muito cedo, formam o quadro que faz com que o HU atenda quase o dobro de crianças nesta época do ano. A mãe precisa voltar a trabalhar e aos quatro meses o bebê já é inserido em um ambiente onde proliferam vírus. Por isso, a média é de 12 resfriados ou gripes por ano. “Não é um por mês, porque o período considerado vai de março a setembro. São dois resfriados por mês, a criança nem chega a se recuperar e já está doente de novo”, afirmou o médico.
Algumas recomendações ouvidas por todos quando pequenos são rechaçadas pelo pediatra como ineficientes. Lotufo afirma ter quatro mandamentos para quem é doente respiratório: pode andar descalço, tomar sorvete, pegar vento e nadar. Outra recomendação considerada não vantajosa pelo médico é a vitamina C. Segundo ele, na alimentação brasileira existe uma quantidade satisfatória da substância, portanto a vitamina só é recomendada para casos muito específicos. “Caso contrário, o excesso será eliminado e não trará nenhuma alteração”, disse o pediatra.
Ambientes com alta concentração de crianças (e inevitavelmente alta concentração de agentes patológicos) devem, se possível, ser evitados pelas mães como maneira de prevenir eventuais doenças. “É recomendável que se espere um pouco para começar a levar o bebê a festas infantis”, aconselhou o médico. As creches também são desaconselháveis do ponto de vista clínico, apesar de Lotufo reconhecer a inviabilidade desta recomendação para a realidade brasileira.