São Paulo (AUN - USP) - O Projeto Antitabagismo do Hospital Universitário da USP – HU – foi idealizado pelo médico pediatra João Lotufo há sete anos, a partir da experiência de um grupo europeu. Hoje, o HU já é um ambiente livre de cigarro e recebeu o selo prata, de acordo com a classificação proposta pelo projeto. Anteriormente de acesso exclusivo aos funcionários do próprio hospital, as reuniões atualmente atendem também a membros da comunidade USP e a pacientes da região do Butantã que desejam parar de fumar.
Fazem parte deste grupo antitabágico médicos (um pediatra e um pneumologista clínico geral), enfermeiros, psicólogos e psiquiatras. Geralmente, cerca de 30 a 40 pessoas participam das reuniões por mês e as inscrições acontecem no próprio hospital. Acontecem de quatro a cinco encontros, mas o acompanhamento não termina neste período; ele é estendido para aqueles que necessitam de um tratamento mais longo. Os dependentes graves, que fumam mais de 40 cigarros por dia, precisam muitas vezes de um acompanhamento psiquiátrico, pois este vício está associado a outras doenças, como a depressão.
O tratamento é uma associação de trabalho psicológico com medicamentos que reduzem gradativamente a necessidade de nicotina, como adesivos e chicletes. O principal foco, no entanto, é o trabalho de conscientização, pois existe a necessidade de o fumante entender que é um viciado. “Até porque a maioria que passa por aqui já tentou algum tratamento com adesivos e não deu certo. Isto ajuda, mas não é solução para o problema”, afirmou Lotufo.
O Brasil é um dos poucos países que tem conseguido diminuir a taxa de fumantes em sua população, que passou de 32 para 17% entre os anos de 1989 e 2004, segundo o Ministério da Saúde. Lotufo acredita que este é um resultado de várias ações conjuntas, como a inserção de imagens de advertência no verso dos maços de cigarro, do disc-ajuda oferecido pelo governo para quem tem interesse em parar de fumar e do aumento de estabelecimentos que proíbem o fumo em ambientes fechados.
Os selos atribuídos pelo Projeto Antitabagismo contemplam justamente os lugares que tomam a iniciativa de combater o fumo. Criado pelo médico João Lotufo como parte complementar do trabalho, existem três gradações possíveis. O selo bronze é designado para a empresa, por exemplo, que tiver a intenção de trabalhar a questão do cigarro. Os ambientes fechados livres do hábito, como o HU, recebem o selo prata. O selo ouro só é concedido a lugares que conseguirem exterminar a presença de fumantes de seu entorno, como aconteceu no Colégio Augusto Laranja e no Palácio do Governo.
Esta é uma medida importante, pois beneficia também os fumantes passivos. Uma pesquisa desenvolvida pelo hospital mostrou que 24% das crianças de zero a 5 anos já têm nicotina no organismo. Lotufo acredita que a criança pode até mesmo ajudar na conscientização de seu pai fumante. “Muitas vezes, o efeito de ver seu filho internado por uma crise de asma provocada pelo seu vício traz uma percepção mais dramática ao pai do que a possibilidade de um câncer daqui 40 anos”, acredita o médico.
O Projeto Antitabagismo ainda possibilita, em alguns casos, que os funcionários tragam seus familiares fumantes para as reuniões, pois a cooperação familiar pode aumentar as chances de interrupção do hábito. As taxas de sucesso, segundo a estimativa de Lotufo, estão na faixa dos 40%.
Site: www.antitabagismo.hu.usp.br