ISSN 2359-5191

07/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 68 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
As heranças de 1968

São Paulo (AUN - USP) - As liberdades sexuais e políticas que temos nos dias de hoje são resultado dos movimentos ocorridos no ano de 1968, que foram politicamente derrotados, mas deixaram importantes transformações na sociedade. Os professores Henrique Carneiro, do Departamento de História da USP, e Vladimir Safatle, do Departamento de Filosofia, debateram o assunto em mesa promovida pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP). As lutas pela quebra de estruturas disciplinares continuam, mas com diferentes inimigos em cada tempo.

Para o professor Henrique, existe uma dificuldade de compreensão do que ocorreu em 1968. Na definição política, foi a mais importante crise nos países centrais: o grande número de mortos na Guerra do Vietnã, os protestos antimilitaristas, antiimperialistas e as greves operárias marcaram um ano de transformações no panorama político-cultural da época. Os alvos mais comuns eram os governos e o Partido Comunista, em uma luta que buscava o fim de barreiras tradicionalmente impostas às liberdades individuais.

As novas gerações lutavam por melhores condições no ensino público, o movimento de 1968 explodiu nas universidades: era uma luta contra a política educacional em projeto nas escolas européias, em especial na França, que pretendia tornar o ensino universitário mais técnico, em detrimento da formação teórico-intelectual. Era um grupo social que lutava por suas próprias causas, na busca pela liberdade almejada.

Em meio à Guerra Fria, esta era uma geração marcada pela ameaça do holocausto nuclear, filha da bomba atômica e da comunicação de massa. A rebeldia e as revoluções culturais e sexuais estavam no centro da discussão nesses grupos, que procuravam nas drogas e no experimentalismo corporal novas formas de expressão. Era uma rebelião ligada a um modo de vida, que pregava uma vida de prazeres livres e uma politização do corpo: a linguagem pura e simples é desprovida de força, é preciso fazer o corpo falar.

Os professores concordam que a vida e as famílias eram agredidas pelas indústrias, que mecanizavam não só o trabalho, mas também a existência das pessoas. O trabalho era organizado de modo alienante e foi severamente criticado pelos movimentos de 1968, que não podiam mais questionar apenas nas críticas à riqueza e ao Estado e passaram a focar-se na mudança das formas de vida.

Entre os jovens, principalmente, havia uma busca por romper as regras e amarras e liberar os desejos reprimidos. Os estudiosos acreditam que estes impulsos determinaram os rumos da luta política, o clima de ruptura que vigorou no final da década de 1960 e a busca por modos de vida alternativos. Surgiram os hippies, as feministas e, posteriormente, o movimento gay: as questões dos oprimidos vieram à tona.

Os pesquisadores acreditam que os questionamentos gerados em 1968 são fruto de uma sociedade fechada, que estava buscando autonomias em vários campos, com atitudes desafiadoras ao sistema estabelecido. A hegemonia do espetáculo criou uma sociedade da produção, que se apropria de elementos de contestação transformando-os em produtos. Os ecos da década de 1960 estavam presentes na contracultura dos anos 1990 e, hoje em dia, ainda influenciam os movimentos contra globalização.

As conquistas de 1968 se fazem presentes nos dias de hoje. As lutas atuais são diferentes, um desdobramento daqueles tempos, e a conquista por direitos individuais agora é o principal foco. Se antes a questão principal era o bloqueio da vida em seu sentido pleno de liberdade, agora é preciso romper com as barreiras da sustentabilidade e do holocausto ambiental em que a humanidade esta se envolvendo, para evitar uma autodestruição.

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