ISSN 2359-5191

14/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 70 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Preconceito marcou a vida dos imigrantes japoneses

São Paulo (AUN - USP) - Não foram poucas as barreiras que os imigrantes japoneses tiveram de romper quando chegaram ao Brasil. Além da língua, das diferenças culturais, e do trabalho duro que os esperava, os japoneses ainda enfrentariam um forte preconceito de muitos setores da sociedade brasileira. As motivações, e as conseqüências dele para o jogo político da época foram tema da dissertação de Mestrado de Márcia Yumi Takeuchi, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O trabalho servirá de base para um livro que a historiadora lançará pela editora Humanitas nos próximos meses.

A imagem que os brasileiros teriam dos imigrantes japoneses começou a ser formada antes mesmo do primeiro navio, o Kasato Maru, chegar ao Brasil em 1908. Ainda no final do século XIX se iniciaram os debates sobre a possibilidade da vinda deles para o país, discussão essa baseada principalmente em aspectos raciais. Naquela época predominavam entre a elite brasileira os ideais eugenistas, uma pseudociência que dividia a humanidade em raças, superiores e inferiores. Para partidários desse ideal, o subdesenvolvimento do Brasil era devido à sua inferioridade racial, já que depois de servir de receptáculo dos degredados portugueses, o país recebeu uma imigração que consideravam da pior espécie. Eles viam como saída “embranquecer” a população, estimulando a imigração européia e proibindo a entrada de “negros” e “amarelos”.

Além dos supostos malefícios de sua miscigenação à população brasileira, já pesava sobre os japoneses o estigma de serem reconhecidos como uma potência mundial. Após derrotarem o Império Russo, os japoneses começaram a ser vistos como potencialmente perigosos, dando início ao mito do “perigo amarelo”. A partir da década de 20, quando a imigração já havia sido concretizada, o debate entre seus defensores e opositores se intensificou. Mesmo os que se posicionavam a favor dos japoneses, usavam argumentos racistas para isso, defendendo que eles seriam os brancos da Ásia, exaltando sua organização, inteligência, moral rígida e espírito trabalhador. Para os contrários a ela, os japoneses tinham uma tendência para perversões sexuais, traição, além do suicídio e dos crimes brutais, já que davam pouco valor à vida.

Com a revolução de 30 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o nacionalismo ganhou força dentro do debate sobre a imigração. Criou-se o mito de que os japoneses eram incapazes de assimilar a cultura nacional e acabariam formando quistos raciais dentro de nosso país. Além disso, cresciam das denúncias de que Tókio tinha um plano secreto de dominar Brasil. Durante a constituinte de 1933, uma intensa campanha para se proibir a imigração japonesa, foi colocada em prática, com intelectuais antinipônicos procurando ganhar a opinião pública. Deste modo, a inclusão de outras nacionalidades na cláusula que restringia a entrada de novos imigrantes no país foi considerada uma vitória da diplomacia japonesa e dos partidários da imigração.

Porém, com a chegada da Segunda Guerra Mundial, o mito do perigo amarelo passava da imaginação dos antinipônicos para a política oficial do governo. Durante a guerra, os imigrantes vindos dos países inimigos (Japão, Alemanha e Itália), sofreram pesadas restrições. Os japoneses tiveram que fechar as escolas que abriram para lecionar em sua língua, bem como não podiam imprimir jornais ou mesmo falar o japonês nas ruas. Eles foram mais afetados do que os imigrantes dos outros dois países, pois tinham mais dificuldade de assimilar a cultura e o idioma local, além de já serem considerados etnicamente perigosos.

O ambiente hostil aos imigrantes japoneses fez com que muitos deles reafirmassem seu próprio nacionalismo. Assim, depois da guerra, a colônia se dividiu entre os que acreditaram na derrota do Japão e os que atribuíam essa notícia a uma campanha para minar a moral dos japoneses. O último grupo acabou criando sociedades secretas, que não raro chegavam ao fanatismo, como a Shindô Renmei, que através de seus pelotões de ataque, os takkotai, chegou a assassinar vários dos imigrantes que considerava traidores e derrotistas. Assim como o preconceito dos brasileiros, esse racha na colônia criou feridas que levariam ainda décadas para serem cicatrizadas. Hoje integrados ao Brasil, os japoneses e seus descendentes, como Márcia Yumi Takeuchi, procuram manter viva a lembrança de seu sofrimento, para que a lição da tolerância não seja nunca esquecida.

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