São Paulo (AUN - USP) - Os desafios colocados aos jovens de hoje são tão grandes, ou até mesmo maiores, quanto os enfrentados pelos participantes dos movimentos de protestos ocorridos em 1968. Essa é a opinião do ex-presidente do DCE Livre USP – Diretório Central Dos Estudantes, daquele período, Rafael de Falco. Para ele, apesar dos avanços que a sociedade mundial teve, devido aos protestos daquela época, ainda há muito para ser feito. Falco participou da “IV Semana de Ciências Sociais”, que teve como tema “68: 40 anos”, realizada, recentemente, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – FFLCH/USP.
Fazer com que as revoluções nas comunicações sejam, realmente, de acesso a todos é um desses desafios apontados por Falco. Além deste, o aproveitamento das riquezas existentes, possibilitando uma distribuição mais justa dos recursos, é outro problema a ser enfrentado pelos jovens na atualidade. “Esses desafios estão aí e podem tornar o momento dos jovens tão ou mais emocionantes do que tivemos em 68”.
Falco também observou que, enquanto uns consideram que 68 não teve nenhum significado importante, outros atribuem um valor demasiado grande àquele período. “Eu acho que a discussão sobre se 68 deve ser ou não endeusado é totalmente inválida”, diz o ex-estudante da Escola Politécnica.
É, principalmente, dos jovens que vem esse endeusamento, explica Falco, que costuma ouvir deles: “Vocês tiveram sorte, viveram 68, tinham manifestações, davam tiros e nós aqui sem nada para fazer”. Essa é uma posição errada porque os desafios de cada geração são próprios dela e cada uma tem o seu encanto, sua dificuldade, explicou o ex-estudante da USP, que foi preso três vezes durante o regime militar. Na última prisão, ele foi libertado, junto com mais 69 presos políticos, em troca do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher, seqüestrado em 1970 por militantes contrários ao regime ditatorial brasileiro.
1968: 40 anos depois
Para Falco, 68 representou o processo que culminou numa série de mudanças que fez com que a realidade tanto do Brasil, quanto do mundo, não fosse mais a mesma. Ele diz que muitos consideram que as reivindicações da época não foram atendidas. “Em um primeiro momento as grandes batalhas de 68 foram perdidas. Só que se hoje a gente voltar as vistas para a realidade, muito do que ocorre, atualmente, no mundo, é resultado dessas lutas”, diz o hoje empresário da área de eventos.
A democratização do Brasil, como ela aconteceu, dificilmente teria sido tão profunda a ponto de aceitar Luiz Inácio Lula da Silva, um operário vinculado a um partido de esquerda, como presidente, diz Falco que, durante a Ditadura Militar, ficou exilado por nove anos, sete deles em Cuba. A preocupação social que passou a fazer parte de todos os organismos internacionais do capitalismo, embora isso, na opinião de Falco, possa parecer uma “heresia”, também é apontado por ele como resultado dos movimentos de 68.
No plano político, tivemos uma discussão mundial em torno da construção de uma sociedade mais justa, coisa que até então era abordada apenas em pequenos grupos, exemplifica Falco, que também comentou a revolução nos costumes, como a revolução sexual promovida pelo movimento hippie. Ele explica que na época eles não tinham muitos vínculos com esse movimento, mas que hoje, olhando com um pouco mais de distância, ele considera-os como parte de um mesmo movimento de contestação de um mundo que precisava mudar.