São Paulo (AUN - USP) - Zelar pela recuperação do paciente no domicílio, após uma cirurgia de grande porte (mais de 4 horas de duração), pode ser estafante para o encarregado desse trabalho e exigir algumas adaptações para instalação do paciente em casa. No entanto, como mostrou a pesquisa realizada pela enfermeira do Hospital Universitário da USP, Maria Fernanda Jukemura, esse cuidado proporciona benefícios tanto para quem os recebe quanto para quem exerce o papel de cuidador familiar.
O hospital é um dos beneficiados, pois a rotatividade dos leitos aumenta quando o paciente tem alta antecipada e recebe os cuidados em casa. A instituição consegue assim atender a um maior número de pessoas de modo adequado, sem que haja filas nas enfermarias e nem nas alas de recuperação, fator este que permite que mais cirurgias consideradas urgentes sejam realizadas.
O título do trabalho de Jukemura é “O cuidador familiar de pacientes submetidos à cirurgia gastrointestinal de grande porte: suas atividades no domicílio” e visa mostrar como a rotina de quem exerce a tarefa de cuidar de um familiar próximo é alterada. Jukemura percebeu que a doença exige uma reestruturação na família, pois há sempre um redimensionamento dos papéis, desequilíbrio financeiro, além do baque emocional que uma situação desse tipo provoca.
O cuidador familiar é sempre alguém próximo, sem experiência na área da saúde e que fica encarregado dos cuidados diretos e recebe ajuda para quesitos secundários, como um enfermeiro que eventualmente vem dar banho no recém-operado. Uma cirurgia de grande porte também normalmente requer uma sonda ou dreno que não são retirados logo após a operação, só alguns dias mais tarde – o cuidador tem que, portanto, aprender a lidar com estes objetos específicos.
Todo este cenário, conforme constatou Jukemura, é bastante assustador para o cuidador. No entanto, apesar do medo inicial, todos eles exercem as atividades de maneira prazerosa, e vêem estas tarefas como uma maneira de se aproximar e tornar a vida do seu ente querido doente mais fácil.
Dos 15 cuidadores entrevistados por Maria Fernanda em seus domicílios, apenas um era homem. Também eram maioria os trabalhadores assalariados e a média de idade era de 50, 6 anos. Nos primeiros quatro dias após a alta antecipada, estes familiares disponibilizavam mais de 18 horas de seu dia com os cuidados necessários, o que configura uma situação de stress e cansaço muito grandes. Os cuidadores recebiam também, na maioria das vezes, ajuda da empregada para ministrar remédios, manusear sondas etc., tarefas estas que foram aprendidas por todos eles.
Maria Fernanda afirmou que o papel do enfermeiro neste período de adaptação do doente à casa é minimizar as dúvidas e as ansiedades dos cuidadores, fazendo com que estes sintam-se seguros e capazes de lidar com as dificuldades que é ter um paciente dentro de casa, sem as instalações hospitalares e sem uma enfermeira que conheça os procedimentos a ser feitos.
Esta pesquisa fez parte da dissertação de Mestrado da enfermeira do Centro Cirúrgico do HU, Maria Jukemura e foi apresentada a outros enfermeiros do hospital recentemente, num projeto batizado de Reunião Científica. As apresentações ocorrem todas as últimas terças-feiras do mês e visam divulgar as dissertações e teses defendidas na Escola de Enfermagem. As sessões são abertas a todos os interessados.