São Paulo (AUN - USP) - A vacina contra a gripe, distribuída gratuitamente pela rede pública de Saúde aos idosos, ainda causa muitas dúvidas na população, devido à falta de informação sobre qual é o seu mecanismo de ação. Por isso, afirma o médico pediatra e pneumologista do Hospital Universitário da USP – HU -, João Lotufo, é tão comum as pessoas exclamarem “puxa, mas essa vacina é uma porcaria, eu fiquei doente do mesmo jeito”.
O que acontece, explicou Lotufo, é que a vacina contra a gripe é específica contra um tipo de vírus, o influenza . Este vírus é o mais agressivo entre os vários tipos causadores da gripe; no entanto, ele corresponde por apenas, em média, 20% das viroses. Assim, quem toma a vacina está mais protegido contra um vírus que pode desenvolver doenças mais graves, como pneumonias, mas não está imune a gripes e resfriados causados por outras espécies de transmissores.
A vacina, assim que implementada, ocasionou uma diminuição de 15% na internação dos idosos, afirmou o pneumologista. “Mas também não é pra achar que a vacina é milagrosa, pensar ‘nossa, tomei a vacina há três anos e desde então nunca mais fiquei doente’. Isso significa que a sua imunidade está muito alta, mas não é uma condição existente devido unicamente à vacina”, disse o médico.
João Lotufo também fez algumas críticas ao planejamento e à distribuição desse tipo de vacina. Por uma política de saúde adotada pelo governo, a vacina só é distribuída gratuitamente pela rede pública àqueles com mais de 60 anos. “No entanto, quem sai mais de casa são as crianças, e não os idosos”, asseverou o pediatra. Ele enxerga na aplicação da vacina nas crianças um uso melhor desta prevenção, já que as crianças expostas ao vírus nas ruas estariam mais protegidas. Os idosos, que muitas vezes vivem com filhos e netos, também se beneficiariam indiretamente desta política.
O médico aconselha tanto idosos quanto crianças a tomarem a vacina nesta época do ano. Em alguns países a vacina é distribuída para ambas faixas etárias, mas no Brasil, provavelmente por uma questão de custos, segundo Lotufo, fez-se a opção pela vacinação dos idosos.
No inverno, estas são as idades mais afetadas por doenças respiratórias, como asma, rinite, sinusite, além de gripes e resfriados, mais comuns. A poluição do ar é um dos fatores que agrava este caso. É por este motivo que o pneumologista acredita que uma melhoria da qualidade do ar é mais importante para a saúde do cidadão do que a limpeza dos rios Tiête e Pinheiros, projetos em desenvolvimento pela prefeitura atualmente.
Segundo o médico, investimento nestes dois quesitos, vacinação (e também pesquisa para desenvolvimento de novas vacinas) e combate a poluição podem ser muito eficientes para melhorar a vida dos paulistanos que sofrem com a falta de umidade já existente neste período mais frio do ano.