ISSN 2359-5191

03/05/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 06 - Sociedade - Instituto de Geociências
Curso pretende suprir falta da Geociências no ensino brasileiro

São Paulo (AUN - USP) - Há possibilidade de ser aberta uma nova turma de licenciatura em Geociências na USP. A proposta, elaborada por um grupo de docentes do IGc – Instituto de Geociências –, não visa apenas a atender a expansão do número de vagas exigida pela universidade, mas, principalmente, antecipar-se a uma demanda latente no ensino médio brasileiro de professores capacitados para lecionar a disciplina.

É a Geociências que trata, de forma mais abrangente, de temas como enchentes e efeito estufa. A importância da disciplina fica clara ao se observar que a maioria dos professores não está preparada para satisfazer a curiosidade dos jovens a respeito de fenômenos como esses. Ainda mais porque entendê-los a fundo significa lidar melhor com as necessidades do homem e do meio ambiente.

Maria Cristina da Motta de Toledo, professora do IGc e defensora da reintrodução da disciplina na grade curricular, ao analisar o sistema educacional brasileiro, concluiu que a forma como a Geociências é tratada nos ensinos fundamental e médio brasileiros contribui para uma visão utilitarista do sistema Terra. "Isso impede, em grande parte, o desenvolvimento de uma consciência crítica nos estudantes em relação ao funcionamento da natureza e, consequentemente, do próprio papel do homem nesse sistema", acrescenta.

Embora citado nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – guias para a formação do estudante brasileiro –, na prática o ensino de Geociências foi abolido do sistema educacional brasileiro desde os anos 50. Na época, separou-se a História Natural, disciplina então obrigatória, entre Geologia e Biologia. Entretanto, "história da vida e história da terra estão intimamente associadas", assinala Maria Cristina.

O resultado foi que a Geologia acabou pulverizada entre a Química, a Física e a Biologia o que, segundo a professora, conduziu a uma visão pragmática do sistema Terra, que ainda persiste nos estudantes brasileiros. Assim, sob o rótulo da interdisciplinaridade, fragmentou-se o estudo de fenômenos que deveriam ser entendidos em seu todo.

Segundo os parâmetros, o ensino médio deve prover os estudantes de uma visão da dinâmica natural, da compreensão dos processos naturais inclusive em associação com as condições geológicas para origem e desenvolvimento da vida, das interações entre atmosfera, hidrosfera, biosfera e litosfera, e da formação de capacidades para avaliar e julgar as interferências no meio natural e agir dentro das condições de sustentabilidade.

Assim, uma volta da Geociências seria uma adaptação aos próprios requisitos do documento, viabilizando a formação de jovens mais críticos e conscientes.Assim, segundo uma análise de Maria Cristina, a proposta de uma nova turma de licenciatura, como a estudada no IGc e em universidades no Pará e no Maranhão, antecipa não só uma tendência para o ensino médio, mas uma necessidade para a formação do brasileiro, segundo uma ótica de desenvolvimento sustentável.

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