São Paulo (AUN - USP) - Os movimentos estudantis viram surgir o que parece ser um novo modo de fazer política. Olhando de perto, parecia apenas mais uma greve: a ocupação da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), analisada um ano depois por um grupo de jovens antropólogos, revelou-se uma inovação no campo das lutas juvenis. O líder do grupo de estudos, professor José Guilherme Cantor Magnani, propôs a análise etnográfica da ocupação como atividade de greve para seus alunos do primeiro ano do curso de Ciências Sociais da USP e continuou os estudos com os estudantes que permaneceram no projeto.
A etnografia é uma forma de estudo usada pelas Ciências Sociais que analisa os fatos de perto e enquanto eles ainda estão acontecendo, um olhar que mistura o pesquisador com seu objeto de estudos. Durante a Ocupação, os estudantes (ou antropólogos) misturaram-se com o movimento, viviam aquela realidade e viram, durante os 51 dias do movimento, a vida utópica que era pregada e um novo modo de fazer política sendo gestado ali dentro.
A mídia costuma rotular as atuações dos movimentos políticos, enfraquecendo-as. Neste contexto, perde-se a diversidade dos movimentos, que acabam agrupados em conceitos que os desgastam. A carga simbólica criada em torno do ano de 1968 é fruto destas construções e manipulações da imprensa, que fizeram o movimento parecer algo homogêneo e, deste modo, engrandeceram-no aos olhos das gerações futuras. O olhar moderno é acostumado com este mito de lutas e ideários revolucionários e os novos movimentos políticos têm como desafio fugir destes padrões e estereótipos.
A violência que os jornais diziam ocorrer dentro da ocupação era muito diferente da realidade que se via lá dentro: o grupo de antropólogos presenciou o surgimento de regras de convivência pacifica e coletiva, um viver em sociedade tratado de forma inovadora. Este olhar próximo analisa os problemas ideológicos e as inovações ocorridas durante o movimento. A antropologia serve como um alargamento de horizontes, a prática pessoal dos jovens estudantes se mistura com o que ocorre e os estudos que serão publicados posteriormente refletem esta mistura de realidades.