São Paulo (AUN - USP) - Sucessos recentes de público e crítica como Cidade de Deus, Dois Filhos de Francisco e Tropa de Elite criaram a falsa impressão que o Brasil possui uma indústria cinematográfica. Mas essa “indústria” é sustentada integralmente pelo dinheiro do público. As leis de incentivo (Lei do Audiovisual e Lei Rouanet) e os editais não promoveram a sustentabilidade do setor como era previsto. Eles aumentaram ainda mais a dependência dos cineastas em relação ao governo. “Se falarmos, vamos cancelar os mecanismos de financiamento, o cinema brasileiro acaba”, opina Carlos Augusto Calil, professor do curso de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes (ECA – USP) e ex-diretor da Embrafilme.
Calil enfatiza que não se opõe as leis de incentivo, porém deseja que elas criem progressivamente condições para a sustentabilidade do cinema. “A legislação não é uma legislação que promova o desenvolvimento do cinema, ela gera dependência e fragiliza ainda mais o setor cinematográfico.” Para o ex-diretor da Embrafilme, a independência do cinema só ocorrerá quando o governo exigir que parte do que investiu em uma produção retorne aos cofres públicos a fim de que seja reinvestido em outros filmes.
O professor acredita que o recém-criado Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) é a alternativa encontrada pelo governo para sair do modelo atual e ingressar em um mecanismo melhor. O FSA pretende aumentar tanto a rentabilidade dos filmes quanto das empresas cinematográficas. O dinheiro desse novo fundo quer estimular todos os elos da cadeia produtiva desde a produção até a exibição. Para Calil, o FSA só funcionará de forma eficaz se cessar os atuais modelos de financiamento. “O caminho que está sendo traçado, é o caminho correto, mas ele precisa ser assumido. Se isso precisava ser feito gradativamente, que se faça, mas que se faça!” diz.
Público
Calil acredita que de nada adiantará mudar as leis de incentivo, se os cineastas não modificarem sua postura em relação aos espectadores. Eles precisam buscar um maior diálogo com o público. “Como eles não põem nada em risco, ele se sente no direito de produzir vários fracassos. O sujeito faz filmes para a família, para os amigos” diz Calil. O professor afirma que o povo brasileiro está aberto às produções nacionais, mas é preciso que o cinema busque os espectadores.