São Paulo (AUN - USP) - Os assuntos relacionados ao prazer e à sexualidade feminina sempre foram censurados na sociedade. A cultura ocidental, falando apenas de países próximos, renega os assuntos relacionados às mulheres, aos movimentos gays e as discussões sobre a teoria dos gêneros ao segundo plano, desprezando-os e evitando discussões. As estudiosas Eva Alterman Blay, socióloga da Universidade de São Paulo (USP) e Heloísa Buarque de Almeida, antropóloga da USP, debateram o assunto em mesa promovida pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais da USP.
A professora Eva destacou a luta das mulheres por liberdades não só sexuais: durante os anos da ditadura brasileira, o movimento feminista lutou pela anistia de seus familiares e pela conscientização das famílias brasileiras. A chamada revolução sexual é apenas um símbolo que foi posteriormente estabelecido, a professora questiona se este movimento seria sinônimo de liberdade sexual e se ele teria de fato surgido em 1968, como muitos estudiosos afirmam.
Para Eva, a relação entre homens e mulheres não mudou em 1968, esta data é apenas um marco que exerce uma influência simbólica. A invenção da pílula anticoncepcional, no final dos anos 1960, não trouxe a tão sonhada liberdade sexual: os efeitos colaterais e a falta de informações existentes prejudicavam e até mesmo impossibilitavam o uso dos métodos contraceptivos. As organizações religiosas e até mesmo os partidos políticos de esquerda eram contra a prevenção e o planejamento familiar, expulsando feministas por não suportar esta luta pela emancipação feminina.
Heloísa lembra que a gênese das desigualdades sexuais esta no Iluminismo do século XVIII, onde a natureza foi usada para legitimar as desigualdades, em uma sociedade que se dizia igualitária. Antes, homens e mulheres eram considerados iguais, com a diferença que o pênis das mulheres era para dentro. Se todos os homens nascem iguais, para explicar as diferenças coloca-se a culpa no nascimento: as mulheres nascem diferentes. Neste ponto, a ciência assume um caráter político, legitimando as desigualdades sexuais com uma teoria dos gêneros que foi socialmente estabelecida.
A libertação sexual feminina é um processo ainda em curso, acredita Eva, que começou com movimentos de contestação anteriores a 1968 e continua até hoje. O rock de Elvis Presley, com suas gesticulações e movimentos era o começo de uma liberdade sexual, era a expressão do sexo vindo à tona e assumindo caráter relevante. A censura foi a reação mais imediata, mas conforme os movimentos ganharam força, as mulheres foram conquistando espaço e inserção na sociedade.
As pesquisadoras alegram-se com o fato de que hoje a sexualidade e o prazer das mulheres sejam discutidos aberta e livremente, mas ainda há dúvidas sobre o orgasmo feminino e outros assuntos relacionados. Os grandes tabus deste tema foram quebrados, mas as mulheres ainda persistem em sua luta por igualdade de direitos e prazeres.