São Paulo (AUN - USP) - A preparação da opinião pública para reagir contra a Ditadura Militar no Brasil. Embora, militarmente derrotados, essa foi a vitória política conquistada pelos movimentos de resistência armados ocorridos entre o final da década de 1960 e início de 1970, no país. Essa constatação foi feita por Leonel Itaussu Almeida Mello, professor titular da USP, durante debate realizado, recentemente, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – FFLCH/USP.
As eleições ocorridas em 1974, 1976 e 1978, as greves dos metalúrgicos do ABC paulista e a retomada do movimento estudantil desembocaram na campanha “Diretas Já”, ocorrida em 1984, que reivindicava eleições diretas para a escolha do presidente da República. Mello explica que “essa mobilização, que se estendeu por todo o país, provocou tal nível de isolamento nos usurpadores do poder que eles foram obrigados a devolvê-lo aos seus verdadeiros titulares que são os cidadãos da sociedade brasileira”.
Apesar dessa vitória política da mobilização da população que teve como resultado a restauração democrática e o restabelecimento dos direitos individuais e coletivos, Mello considera que ainda ficou uma grande dívida social para ser resolvida. “Nós somos uma democracia, como foi a ateniense: uma democracia de escravos, de desempregados, de excluídos, de marginalizados”. O professor diz que temos que utilizar essa democracia reconquistada pelos movimentos populares para promover reformas sociais e econômicas, resgatando essa dívida que o Estado brasileiro tem com a sociedade brasileira.
Mesmo com essas reformas ainda por serem feitas e com a derrota militar, Mello, que foi presidente do Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE-USP) no período de 1968-1969, diz que se perguntarem se 1968 valeu a pena, ele diz que o poeta Fernando Pessoa já respondeu por ele: na vida tudo vale a pena quando a alma não é pequena. E, se dirigindo aos seus companheiros de luta daquele período, disse os versos de um poeta turco que ficou 20 anos na prisão e morreu no exílio em Havana, Cuba, em 1963: Se eu não me queimo, se tu não te queimas, se nós não nos queimamos, de onde virá a luz que iluminará as trevas?